Beleza, Prosa e Bebida - Parte 2

Parte 2 – Adoração a uma Deusa.

Roguei! De uma maneira que não sabia rogar. Pedi a Zeus como senhor supremo dos deuses para que houvesse outras vezes, mas é sabido que os deuses gostam de brincar com os mortais fazendo dos desejos desgraças para o bel prazer da divindade e das desgraças tormentos para humanidade. Quando perdi as esperanças e me encontrava resignado à vontade dos deuses como se por uma brincadeira infame de Zeus, como se fosse magia, eis que aparece em minha frente como fênix, renascida das cinzas da esperança, a beleza que me encantou dias atrás.

Estóico, coloquei-me diante dela, inabalável, austero, senhor de mim mesmo, e ela, como se descesse sobre as nuvens veio em minha direção com um sorriso que desmontaria o exército de Menelau, rei de Esparta, com sua voz de seda (com certeza faria Hércules perder as forças). Tomou-me em suas mãos como se por um convite e levou-me para saborear a mais doce bebida fermentada que já provei, homem algum poderia recusar tal convite.

Na mesa da beleza, no lugar de costume, só que desta vez a apreciar o furor de quem quer entender o mundo, ingênua como uma criança em busca dos porquês, mas astuta como uma mulher que sabe o que quer. Como homem não quis dividi-la com os velhos lobos do mar que atravessaram o mar Egeu guiado pelo teu perfume, mas o fiz, em respeito a tua divindade.

A revolta me dominou com teu pedido. Como ousa com tua graça pedir-me para tecer criticas à teu respeito. Não quero ser o louco responsável pelo insano opúsculo o qual a humanidade cobrará com a fúria das valquírias tais injurias, mas como negar o pedido de tão doce voz. Nestes momentos, sinto-me Ulisses, ao singrar e desbravar os mares com a audácia que só a aventura da viver traz ao coração errante. Amarrar-me-ei ao maior mastro da embarcação só para ouvir teu canto de sereia, vindo de longe, flutuando ao vento, como um véu de seca voando graciosamente sobre o mar parando em minhas mãos, cobrando de minhas mãos a crítica. Furioso mar, doce canto, furioso vento, doce voz, temíveis mãos, doce encanto. Quando o manto da noite arrastou consigo a madrugada (eram por volta de 4h40m), como as aranha que trabalham a noite, teci a teia que fará da beleza vitima da razão insana de um enlouquecido, mas como negar o pedido de uma deusa?

Talvez minhas blasfêmias como herege mereça seu perdão, mas seu maior defeito é querer apresentar a mim, aquele que detém seu coração. Como poderei adorá-la conhecendo tal pessoa? A adoração nada mais é do que a vã esperança trancada, travada, cravada no peito em busca da divina sensação de ter o inalcançável como parte da salvação dessa frugalidade. Recuso-me a fazer parte deste teu erro, não quero conhecer tal pessoa, atrapalharia minha adoração. Nem tudo o que temos dividimos e nem tudo que se divide é moral.

A sabedoria de deusa que possui aumenta sua sede pelo conhecimento, mas o conhecimento é como uma faca de dois gumes, esclarece e traz tormentos. Tenha calma com tua sede, para que não apague teu sorriso e nem ofusque tua beleza. Não tenho condições de apontar mais que estes defeitos, é necessário conviver para vê-los, e toda a vez que te vejo, o que vejo são brilhos no olhar. Como criticar isto? Não há como falar de ti sem falar de meus anseios, e se falar de meus anseios, talvez você se assuste com a ética bárbara que regem meus princípios.

Desculpe-me, mas não ousarei mais do que já ousei, não direi mais do que foi dito, não escreverei mais do que já esta escrito, pois o medo de perder o pouco que conquistei, impede-me de ser quem realmente sou. Sem alcançar as lagunas da alma não é possível tecer comentário sobre a leveza do ser.

Ley Gomes
Enviado por Ley Gomes em 06/01/2009
Código do texto: T1370869
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