Teatro da Vida !


Vagava pelas ruas e pensava o quanto a vida é um teatro, e quando me dei por conta entrei em uma sala que depois fui entender se tratar de uma sala de espetáculos ou um teatro, e subi no palco.

Prefiro que seja teatro, pois nada de ‘espetáculo’ tinha para comemorar naquele instante, pois minhas divagações prendiam-se aos atos de minha vida.

Olhei para a platéia e vi ali o amor, os sonhos e as esperanças comuns, os planos de felicidades, o beijo, o abraço, o carinho, os filhos, a orientação profissional, a educação paterno-filial, a dedicação, o respeito, o sexo, e outros mais, que estavam sentados todos nas primeiras fileiras da sala.

A Esperança estava sentada sozinha na quinta ou sexta fileira e não vi, porém, neste grupo, o Encanto e que havia me esquecido de convidá-lo.

Não acreditei de que me esqueci, pois eu o quero tão bem e o tenho como meu melhor companheiro e não o acreditava ausente.

Comecei a apresentação como se voltasse ao tempo, revi todos os planos feitos para minha vida e os representei na peça, mas nenhum dos componentes da platéia me aplaudiu.

Foi um momento difícil ! Pois, sem aplausos, naquele instante, revivi o que planejara para o ‘espetáculo da vida’; só revivi, mas não os encontrei realizados.

Vi então que realmente não se tratava de um ‘espetáculo da vida’ mas de um simples ‘teatro’, aonde eu como ator representava muito mal e não merecia mesmo ser aplaudido, pois no ‘palco da vida’ os tinha agradado muito pouco.

Mas não podia parar, precisava continuar minha apresentação, pois independente dos aplausos a ‘peça’ tinha que seguir.

A platéia se olhava entre si e ninguém falava nada com ninguém; só se entreolhavam, cada qual como que procurando uma justificativa para aplaudir mas não encontravam.

Já não me restava mais nada, quando insisti um pouco mais e vi, num lugar bem nos fundos do teatro, ermo e de penumbra ali sentado, sozinho, o Encanto, quando então a Esperança me fez um sinal que realmente eu deveria encerrar a apresentação, pois ela percebia que a platéia não gostava do que via, do que eu representava.

Não tive outro jeito, cortei palavras, gestos e cenas e encerrei a ‘peça’, e todos que estavam na platéia levantaram em silêncio e se foram sem me dar qualquer aplauso, pois perceberam que não faziam parte do script da peça.

Neste momento a Esperança me chamou para que me sentasse ao seu lado e, com as mãos na minha perna, num gesto que tenho como de carinho, e que ela sabe disto, me disse baixinho e carinhosamente:
“Não adianta você convidar a todos para assistirem sua ‘peça’, e querer que eles lhe aplaudam, pois se esqueceu de convidar o Encanto para participar, e quando se perde o contato com o ”Ele” tudo mais que deveria fazer parte do ‘espetáculo da vida’ vai embora em silêncio, não restando ninguém para aplaudir.


(o casamento, se não for regado sempre em seus 'ingredientes' esfacela a todos, e o ‘espetáculo de vida' antes planejado acaba sem que tenha 'alguém' para aplaudir. Cultive o Encanto !).
Brasilino Neto
Enviado por Brasilino Neto em 31/10/2008
Reeditado em 04/05/2013
Código do texto: T1258864
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.