Através do Espelho

Esta manhã acordei embebida em encantadora magia

Em meu velho espelho, meu reflexo cansado não mais via

Em seu lugar, uma paisagem verde com borboletas esbanjando graciosidade

Uma paz tão irreal que confundia minha racionalidade

Teus olhos apaziguados era o que o vidro refletia

E por não poder compartilhar tua serenidade, meu coração doía

Respirava fundo, na minha consciência que missão tenho cumprido

Ao final da mesma ganhara um espelho de estranha aura embebido

Levara ao meu lar, deixando-o num canto, para mim mesmo exponho

Quando através dele vejo uma moça, assusto-me e recomponho

Bela dama, não tirava os olhos dela, me fitava com olhar tão pesado e penetrante

Algo em mim queria apaziguar sua dor, mas ela parecia tão distante

Uma alma de cores tão diferentes invadiu meu mundo

Não consigo desviar nem decifrar, esse olhar tão profundo

Que artimanha alimentam os deuses, a me mostrar tal realidade?

Mostrando-me o reflexo de um coração puro, creem que encontrarei felicidade?

Talvez seja apenas divina brincadeira

Não é como se pudesse alcançá-lo atravessando uma ponte de madeira

Essa ligação de essências não se quebrava, era algo único e inacreditável

Momento que nos astros estava escrito, algo até que pode-se dizer inevitável

Piscava extasiado com tal artimanha mostrada em minha face

Queria que ela, como eu, com esse encontro também se extasiasse

Sentara perto do vidro cristalino, não questionando o porque deste presente

Mostrava-se ali atento e curioso, como se soubesse de algo em mim inerente

Um estranho refletido causou tanta comoção

Meu espírito indomável não entendia a razão

O que me prendia àqueles olhos castanhos?

O que é que queriam aqueles ecos estranhos?

Em meu íntimo sabia que não o queria deixar

E pensava, em mistério embebida, se o vidro conseguiria atravessar

Alma que clamava por alguma solução, algum apelo

Que me trouxeste mais próximo da dama com olhos de tom gelo

Estendi minha mão como num ato de crível insanidade

E ela passara! No susto, tirei minha mão com velocidade

Reparei que uma ponta do espelho de leve a trincar

Fizera as contas...quem se arriscasse a ir inteiro, não poderia mais voltar

Assustei-me ao ver que uma mão do espelho saía

Quis tocá-la, mas, como veio, também rápido se esvaía

Meu coração palpitava, enquanto meu mundo ele invadia

Não era mais só reflexo, era corpo e alma que vivia

E a rachadura deixada no espelho tornava evidente

Que qualquer passo agora dado seria permanente

Olhei para trás, peguei algo, de certo modo por longo segundo

Como se desse um adeus, rumo ao caminho profundo

Fitei-a com grande sorriso no rosto, pegando impulso

Correra para o espelho, caindo no mundo dela, com acelerado pulso

Limpava os cacos de meus cabelos, entregava-a um rosa, ato singelo

Estava ali , no mundo dela, mundo novo, momento belo

Que insano estranho era ele, que num impulsivo apelo

Trocou seu sereno refúgio por um mundo de gelo

A rosa que aninhava em meus dedos era sua última lembrança

E no instante que a toquei, senti esperança

Porque o ser que me sorria não veio pra perecer no inverno

Mas com seu coração puro salvar-me do tormento eterno

Não sabia se ela estava com o ato impressionada

Ou com a atitude inconsequente bem assustada

No final das contas, pequenezas eu não mais importava

Aproveitara do momento e ela abraçava

Sentindo o corpo dela no meu, cheiro e calor

De certo modo escondendo do meu rosto o rubor

Seu impulsivo ato preencheu-me de sentimento inusitado

Jamais sentira meu espaço tão obviamente violado

Pensei que derreteria naquele mesmo instante

Mas o que vinha de seus braços era um calor aconchegante

Os cacos a nossos pés evidenciavam o espelho quebrado

E esse estranho que já conhecia tão bem ficaria para sempre do meu lado

Respirava de certo modo com no peito grande alívio

Sabia que fora impulsivo de novo, era óbvio

Mas recompensado fora por não ser neste momento rechaçado

Afastando-me um pouco, deixando testa a testa, ainda abraçado

Mesmo tendo pulado na vida da dama de gelo de supetão

Podia acreditar fielmente que ela chamou de longe meu coração

Alguma coisa naquele reflexo vivo me havia fascinado

Como se no interior de seu abraço eu tivesse me encaixado

Já não mais invejava seu mundo perfeito

Pois sentia que, em meu reino, tudo seria refeito

Estendi-lhe minha mão em gracioso convite

Para que habitasse meu castelo em eterno deleite

Piscava sem jeito ao ver a mão dela estendida

Aceitei-o de maneira, comparando com o resto, comedida

Era uma nova realidade num mundo todo desconhecido

Mas andava, com os dedos entrelaçados, nunca estaria perdido

Roubava-lhe um beijo, enquanto ao lado dela caminhava feliz

Podia ter mudado seu mundo, mas ela salvou o meu, ignorando toda cicatriz

(Foi um prazer e uma honra ter esse dueto contigo! E como o título veio num estalo rs Ótima sintonia ^.^)

Edu Campagnolo e Louise
Enviado por Edu Campagnolo em 08/03/2016
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