A Flor de Ouro e o Senhor de Ferro
 
 
O Cavaleiro Negro recebe as portas de suas dependências mais intimas a Flor de Vênus, que distraída entre borboletas de uma natureza magica, foi surpreendida pelo o convite ansioso de um pássaro, bastante curioso, que vigiava os lamentos ocultos do Cavaleiro, por arestas nas janelas, que propositadamente deixava ele, para que pudesse também sondar a natureza fugaz de seus jardins, sentir o perfume das flores e solar em assobio discreto as canções que o pássaro febril cantava  de tempos em tempos na frente das grandes muralhas que protegiam do sol e de olhos ambiciosos o soturno palácio do enigmático nobre...
 
 
 
Transpassa-me a alma o eco de minha avidez
Incompreendida ânsia que me torna covarde...
O que sonda meus olhos tristes neste saudoso anoitecer?
Sinto minh ’alma fugir junto ao sol!
Acometido por um frio embargando minha voz...
Com muito a falar não consigo nada dizer...
Quem descobrirá meu corpo ferido?
Quem há de remontar minh’ alma despedaçada
e soprará vida em meu espírito abatido?
Os mesmos males e fantasmas...
Os mesmos amores, aromas e sabores!
Quem pode imaginar, sem julgar? Como é difícil!
 
Cavaleiro Negro
 

Julgar-te todos se acharão no direito de fazer, pois o ser humano, acha que tem obrigação de apontar o erro alheio sem pudor ou preocupação com seus sentimentos..
Tu mesmo quantas vezes expuseste o erro alheio para encobrir teus próprios erros?
Quantas vezes escondeste tua face do Sol que hoje anseias ter-te ao lado?
Quanta escuridão buscaste para próximo de ti, construindo muralhas hoje quase intransponíveis à claridade da Verdade, esse frio que sentes foi imposto por ti mesmo ao te revestirdes de trevas...
Somente tu podes destruir tais muralhas... E deixar que os que te aguardam do outro lado das paredes descubram teu corpo ferido e possam pensar tuas chagas com o bálsamo do amor...
Sabes muito bem que o quebra cabeças de tua alma
cujas partes tu mesmo espalhastes aos quatro cantos do mundo e das existências
somente será montado quando vós mesmos com o auxílio poderoso da maior força motriz do Universo
tua VONTADE...
No momento em que dirigires tua vontade efetiva para a transformação da Vontade, teu Espírito reviverá e não mais se sentirá abatido e desta forma dissipar-se-ão todos os males, fantasmas, os aromas e sabores adquirirão novas nuances transformada pelo Amor e Vontade...

Flor de Vênus

Quão doce é o mel de tais palavras, ajuntamento de virtudes nascida de tanto descontentamento!
Espalhei-me por mundo de salteadores, fui como colar de perolas que se partiu...
Enquanto tantas partes minhas corriam velozes e sem direção pelo o chão desta miserável terra
a vasca chegou-me a garganta e eu vomitei as vergonhas que não me pertenciam...
Pérolas soltas, sem nau condutora; algumas para a luz do amor e outras para as trevas de um sofredor qualquer, Por baixo de móveis empoeirados há mais do que acreditas ter visto na vida!
Espalhei-me em terra árida tal com as águas do Nilo em épocas de cheia...
Tua fala é sóbria e rica em ventura, mostra-se estertor de meu instante insólito... Mas digo-te, amiga minha, que na tristeza de me ver espalhado, não fui sórdido construtor erguendo em solidão muros de pedra e aço...
Contenção... Anseio a luz de uma alva e fresca manhã fagueira, mas o ferro, a pedra e a madeira não se desfazem em um único golpe, por mais seja a mão certeira!

Cavaleiro Negro
 

Caro amigo bem vejo teus anseios de luz e transformação e trago-te somente um ósculo de amor e amizade, além desta muda da flor que sempre me presenteias para que possas planta-la em teu castelo de trevas e solidão, que tuas benditas e fecundas lágrimas deste momento possam rega-la e no momento certo a luz que dela emanar e suas profundas raízes tenham a função da ferrugem que opera silenciosa corroendo o metal que agora parece ser indestrutível.
Paz e Luz...      
 
Flor de Vênus

Tão bem conheces a fertilidade das terras que circundam meu palácio frio e de trevas
Assim tal como conheces melhor ainda os benefícios do amor transmutado em flor!
Conheces o peso de uma lagrima nascida de meu âmago, sabes bem  quão cegos são os nós que nos prendem a certas armaduras...Talvez conheça minha malha metálica tanto quanto conheces teu coração de ouro, valioso e luminoso, mas tão frio e duro quanto eu... Aceitas tão bem que nos céus há tristezas e que no coração dos anjos existem impurezas que me chega estranhar a sofreguidão neste ensejo...
Paz e luz são tuas pílulas ministradas com a maestria de curandeiros da nova era!
Portam-se de maneira prática as bolas de gordura e sal que vomitei um dia... ”Pese sobre meus ombros teu fardo, amigo virtuoso, tome uma medida de paz e luz no alto noturno e outra ao sol do meio dia... vai-te e não peques mais!”

Cavaleiro Negro
 
A ti somente poderei ofertar-te o ósculo do meu amor, a luz da flor que me ofertaste um dia, a frieza e dureza do meu coração que te mostra exatamente tudo aquilo que já sabes o deve ser feito, o bálsamo da cura às vezes ardem na nossa carne para que transmutemos a dor em cicatrizes valorosas a nos lembrar que fomos vitoriosos.
Alguns leram a frieza de meu coração como má vontade de ajudar-te, entretanto estes não sabem que é justamente na frieza deste coração que pulsa por ti amor fraterno e não mais o calor da paixão de outrora que tuas chagas serão curadas.
Sigamos, pois nesta nova etapa de trabalhos com o compromisso da não dor e sim da consciência da transformação.

Flor de Vênus

O beijo na pura expressão grata de teu amor é raio solar passando pela soleira de minha porta, que aberta diz quão disposto estou a receber e ministrar sal e vinagre... Mel e balsamos salutares!
Sim, valiosos espíritos, vitoriosos guerreiros em um porvir regado por molho grosso de um passado assombroso, que todos, sem exceção, brincam de ocultar entre flores! Sim somos vencedores!
Como a ardência e a dor na cura são desconfortos necessários; trincar os dentes e sorrir dissimulado, por vezes, não todas às vezes, também é ato necessário. Certas dores escandalizam nossa boa vontade em receber “Santos”
Airoso também são certos assombros e chega ao ádito da ironia!

Cavaleiro Negro


Cavaleiro e Flor se olham, compreendem na mesma medida que desconhecem os anseios desta palestra. Ele senta em sua cadeira destacada entre todas as outras, percorre os olhos nas paredes sólidas e arenosas, respira profundamente. A Flor sabe quão complicados são os mergulhos na alma de seu anfitrião e tão somente espera decisões e convites. O pássaro, em contrapartida, ensaia canções enquanto pousa sobre o elmo de uma armadura, posto ao lado de uma espada há tempos aposentada.


 
Noah Aaron Thoreserc e Flor de Vênus e Cavaleiro Negro
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 17/05/2013
Reeditado em 17/05/2013
Código do texto: T4295513
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