MUSA RECLUSA
A musa está em coma
com hematoma no horizonte que a fonte risca
como primeira linha manuscrita pelo Sol.
A musa, reclusa,
hospeda-se na blusa de um sono profundo
até que a dor reviste o pranto
e tome uma gota de seu próprio sereno.
A musa não convida a noite
enquanto a tarde não estende a toalha
onde os sonhos brindam o sereno...
Mas alguém, sem estrelas à mostra
no rasgo fundo de sua névoa,
confundiu matéria-prima de construção
com pedra bruta em exílio de canção
e atirou o caco raso de seu prato vazio
sobre a mesa onde a musa servia a Beleza...
(MAURICIO C. BATISTA) (IN MEMORIUM)
A musa entristecida não percebe
o quanto é reverenciada pela poesia
que traz em sua essência a nobreza da vida.
A musa, reclusa,
derrama o licor do pranto
embriagando-se sem pretexto
no contexto de sofrimentos vãs...
A musa esbarra na manhã
com a sutileza de nuvens esparsas
e disfarça sua solidão...
Mas, um alento vindo da alma
dissipa a névoa de seu coração
e imprime com tinta de sedução
a mais pura e sublime canção...
(ESTRELA BRILHANTE)