Vidas divididas
Cibele Carvalho
Na cama o lugar vazio,
no peito a ferida aberta,
nos olhos o pranto macio,
no corpo a fome desperta.
As mãos que procuram pouso
como aves migratórias,
não encontram o repouso
das formas já conhecidas
e tateiam o espaço,
incompletas e perdidas.
Mentes que não se focam,
corpos que não se sentem,
almas que não se pressentem,
ideias que não se trocam.
Somos vidas divididas.
Sobrevivemos, somente,
agarrando-nos aos restos
que nos ficaram da gente.
Corpo e alma insatisfeitos,
a carência acentuada,
corações sangrando nos peitos...
O que esperamos da vida?
Nada.
Nada.
*****
Vidas em dívida
Inocentes, mas não ausentes
– presentes,
Um ninho, simples ninho
– apenas um ninho
Corpos desejosos e esperançosos
– vontade perdida
Vidas divididas
com mentes que se queriam
– corpo que repele
Vidas divididas – vidas em dívidas.
A fome se tinha
e vontade também,
mas o ninho...
Seu cheiro era bom,
suas mãos macias
– não tremiam.
Seus olhos os meus viam
– reprovação
Existia a atração e o desejo,
mas o ninho...
Mas como evitar a aproximação
– segurar suas mãos?
Um lindo diálogo
e um pesaroso adeus.
Um sentimento de vazio
– vida em dívida
Retorno à rotina
– vidas divididas.
Amém
Marcos Toledo