Discurso no lançamento do livro "O Tempo Esquadrinhado", do professor Francisco Cicupira de Andrade Filho

Meus amigos e minhas amigas, boa noite.

Nesta data especial, reunimo-nos para prestigiar o lançamento do livro do nosso amigo Francisco Cicupira. “O Tempo esquadrinhado” é uma magistral obra que resgata fases áureas e nostálgicas da antiga Escola Agrotécnica Federal de Sousa e fatos mais recentes do IFPB Campus Sousa.

Não subo a esta tribuna com o intuito de proferir um discurso pronto, formal, padronizado, mas apenas para repassar ao mais novo escritor sertanejo algumas mensagens de colegas que não puderam comparecer a este sublime evento, por motivos justificadamente superiores.

O romancista José de Alencar, conhecedor do apreço de Chiquinho pela oralidade, apenas enviou um alerta, a fim que o tempo do seu discurso seja bem dosado: “Todo discurso deve ser como o vestido das mulheres; não tão curto, que nos escandalizem, nem tão comprido, que nos entristeçam”.

Carlos Drummond de Andrade justificou a sua ausência. Embora até pudesse vir, ficou receoso de ser convidado para a oratória. Assim se manifestou o poeta mineiro: “As palavras fogem quando precisamos delas e sobram quando não pretendemos usá-las. Tenho dificuldade de entrar numa sala cheia de gente e dizer qualquer coisa. Não gosto. Não gosto de fazer conferência. Não gosto de discurso, não tenho a empostação de voz necessária, não tenho a presença de espírito. Geralmente, tenho respostas muito boas em 24 horas depois”.

Francisco Pereira Nóbrega, membro da academia paraibana de letras, mandou um recado: “O livro é seu até antes de ser publicado. A partir de hoje, passa a ser dos leitores, de todas as pessoas, do mundo”. Castro Alves aproveitou para lembrar-lhe que “A praça, a praça é do povo, como o céu é do Condor”.

Paulo Freire, embora já tenha se pronunciado nos autos, elogia essa postura de Chiquinho, de gestor nato, de sonhador sem ilusões, de sonhar com os pés no chão e os pensamentos nas nuvens. Segundo o mestre das terras de Itamaracá, “é impossível existir sem sonho e que a vida, na sua totalidade, o ensinou, como grande lição, que é impossível assumi-la sem risco”. O mago Paulo Coelho disse que “O mundo está nas mãos daqueles que têm a coragem de sonhar e correr o risco de viver seus sonhos”. Já Ariano Suassuna afirmou que “o sonho é que leva a gente para a frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietado, acomodado”.

Rui Barbosa, intelectual solidário, declara que Chiquinho não deve, nem de longe, se frustrar pelo fato de não conseguir realizar dois sonhos, pelo menos até agora: ser prefeito de Sousa e de assumir o reitorado do IFPB. O águia de Haia assim se pronunciou: “Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado”. Por outro lado, Darcy Ribeiro confessou: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”. E completa: “Mais vale errar se arrebentando do que poupar-se para nada”. Ao passo que Clarice Lispector não costuma valoriza os infortúnios da vida: “O mundo já caiu, então só resta dançar sobre os destroços”.

Vinicius de Moraes e Carlos Drummond congratulam Chiquinho pela sua autêntica capacidade de amar, de se apaixonar: o futebol, a política, as caminhadas, os alunos, a EAFS, os amigos, a família. De acordo com Vinicius, para apaixonar-se, basta estar distraído. Para Drummond “De que vivermos, se não de paixões?”

Em relação à angústia sofrida no ano passado pela inércia da gráfica de João Pessoa para correção e impressão deste livro, assim se expressou Cecília Meireles, à época, tentando acalmar os nervos do incipiente escritor: “A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la”.

E a primavera, estação dos risos, conforme Casimiro de Abreu, chegou hoje, até um pouco antes do previsto e com mais rosas e cores que antes.

Mário Quintana, ao ver a obra, ficou encantado com a homenagem aos servidores antigos, resgatando muitos do purgatório do olvidamento. Para o poeta gaúcho, “Pior do que ser abandonado, é ser esquecido. O que mata um jardim não é o abandono. O que mata um jardim é esse olhar de quem por ele passa indiferente. E assim é com a vida”.

Sabendo que Chiquinho é um gestor entusiasta para idealizar, para construir, para realizar, José de Alencar considera que “É o entusiasmo que faz o poeta e o artista, o sábio e o guerreiro; é o entusiasmo que faz o homem-ideia diferente do homem-máquina”. No mesmo raciocínio, Érico Veríssimo diz que “A inteligência é o farol que nos guia, mas é a vontade que nos faz caminhar”.

Como gestor público, não raras vezes, Chiquinho colocou o interesse coletivo acima da lei. Até tentaram, sem sucesso, convencer-lhe a se adaptar à realidade crua das normas. Todavia, entendia o contrário: as leis é que devem moldar-se aos ditames, realidades e necessidades educacionais. Oswald de Andrade achou isso brilhante. Modernista como é, saiu com esta: “Quando o português chegou, debaixo duma bruta chuva, vestiu o índio. Que pena! Fosse uma manhã de sol, o índio tinha despido o português”.

Por tudo o que Chiquinho fez, pelo que é e pelo que representa, segundo Machado de Assis, para a EAFS, ele será imortal, assim como para as rosas, o jardineiro é eterno.

Fernando Sabino, enaltecendo o jeito brincalhão de Chiquinho, a sua face humorística, as imitações musicais, revelou que “A realidade nunca será bem-vinda, se os circos se fizerem presentes em cada lugar”.

Mesmo acreditando na luta de Chiquinho e de alguns abnegados pela implantação do IFSertão, com vistas a reconquista do espírito de independência da EAFS, Machado de Assis abranda um pouco o ímpeto: “Não se luta contra o destino; o melhor é deixar que nos pegue pelos cabelos e nos arraste até onde queira alçar-nos ou despenhar-nos”. Paulo Coelho, também confiante, reitera: “Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o desejo”.

Quanto a sua obra, O Tempo Esquadrinhado, Olavo Bilac, embora ainda não a tenha lido, não perdeu a oportunidade para externar: “Os livros não matam a fome, não suprimem a miséria, não acabam com as desigualdades e com as injustiças do mundo, mas consolam as almas, e fazem-nos sonhar”. Por outro lado, Mário Quintana entende que “Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”.

Machado, sempre ele, Chiquinho, espera que você continue sempre assim, uma pessoa do bem, isenta de dissimulações, comendo a vida sem garfo e faca, lambuzando-se. Indefinidamente...

A última mensagem é minha, mas não poderia deixar de avocar Ariano: “Se os alemães não leram Guimarães Rosa, Euclides da Cunha ou Machado de Assis, quem perde são eles”. Agora, se não lermos “O Tempo Esquadrinhado”, quem perde somos nós!

Muito obrigado.

Sousa-PB, 15 de fevereiro de 2017.