Desabafos

Uma intenção me levou pelo caminho desejado e sem compreender, sem observar as restrições, a estrada me guiou por fora do hermetismo e do vício como prioridade. Às vezes, deixar-se levar pela maré pode ser uma estratégia para encontrar a sorte, ou é um teste ao destino? Uma tentativa para me mostrar que posso navegar sem um rumo definido e suportar o rebentar das ondas mais altas, do desconhecido... Que é a vida sem riscos?... É se tornar um ser automático... O risco me salva de morrer enquanto ainda respiro, conseguindo perceber a sensação de um batimento forte e conturbado pelo medo, nem sempre é bom saber de tudo. Acordar sem a certeza de conhecer o final, avançar contra o inóspito e se transformam no que antes costumava ser intocável. Sim, estou criando limitações, se ao adequar as minhas ações me encontro impossibilitado de construir uma visão que me caracterize... Vai valer a pena chegar à essa meta se o sacrifício significa fechar meus olhos durante todo o caminho?... Alguns preferem usar uma meta mais próxima da utopia apenas para seguir o caminho mais belo, para não perder os detalhes, para encontrar-se a si mesmo. Eu prefiro tirar o véu e pertencer a este último grupo. Viva a marcha ré, nunca imaginaria que teríamos que pensar o impensável, que tivéssemos que escolher o ilegível. Viver dentro da encruzilhada persistente entre o desejo e a obrigação do incapaz, aqueles que se impõe no implícito e não tem escapatória real, mas dentro da fantasia iludida. Mentiras hipócritas que escondem as verdades mais cruéis, o inimaginável, o absurdo, o que ingenuamente achamos que evitamos mas continuamos a reivindicar. Nos achamos heróis e escondemos os crimes por precaução, expomos uma imagem de solidariedade que acaba sendo nem tanto solidária, mostramos humanidade sem sermos humanos, exteriorizamos bondade e procuramos nisso a vantagem. O mundo de cabeça para baixo, o absurdo e o mais irônico, onde o senso comum não é nem tão comum, nem tão inóspito, um pouco bizarro ou um tanto patético, sei lá, só desejo boas vindas a nova era das cavernas. Por isso acho que não existem impossíveis, apenas sobram covardes, que um segundo pode durar toda uma vida e uma vida pode mudar em um segundo. Que o riso é algo sério, e até isso é coisa de brincadeira. Acho que não há amor sem liberdade, nem liberdade sem amor, que de fantasias se faz a realidade. Então descobri que perplexidade é quando você olha nos olhos do outro, mesmo que não consegues reconhecer-se no vil reflexo. Perplexidade é ouvir uma versão distorcida da sua história na boca de outro que diz conhecê-lo. É encontrar detalhes inóspitos no que parece ser real, na aparência insensata de uma imagem superficial. É querer aparentar algo que não é, na tentativa constante de modificar a forma de ser com a única e simples finalidade de se encaixar em uma sociedade esmagadora que nos diz como devemos agir, sentir e pensar. Onde não importa a essência, mas a etiqueta, obrigando a escolher aderir a sua pele, não importa o quão real é, sem importar a subjetividade. São tão supérfluos, tão efémeros, e não se dão conta. Vivem do que dirão, e esquecem-se de que há algo mais profundo e é por isso que não se envolvem. Tornar-se num bicho estranho, te torna vulnerável perante o resto desumanizado, ensinam que não devemos nos envolver, que não há necessidade de pertencer, que a individualidade basta, e fazem acreditar que isso é normal... normal? Pensei que o normal era o amor, o companheirismo, o estar ali, juntos... isso não é uma sociedade? A convivência contínua, a tolerância, o dar e o compartilhar?... ou será que me enganei?

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 29/01/2017
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