A Notação

Soa piegas dizer que o sono não vem. Não aparece um convite singelo que seja para um mundo além do tato. É ou não é fato? Já nem falo mais do sono. Você nota? Você, aí, lendo, nota? O que nota?

Fui beber água agora, mas algumas poucas gotas caíram dentro do copo. Acabou-se a água. Então comi dois biscoitos de água (e houve água outra vez) e sal, para disfarçar o paladar, que disfarça a mente – que não dorme. Você nota isso enquanto digo? E a água, nota que a água do planeta se esvai em nosso descontrole? É ou não é fato? É um ato inconsequente faltar com atenção.

Venho de longe para dizer que não sou daqui. E poderia ser verdade. Mas, tudo bem, não é verdade, eu sou, apenas sou, por isso você me entende, você que nota. Você nota? Nota mesmo? Nota o que somos? Agora, códigos feitos no escuro, além da sua compreensão de tempo, de espaço, e você decifra os códigos. Nota-se sozinho? Nota? Sozinho como eu, aqui, agora, deixando estas palavra em um instante eterno, o instante em que elas acontecem, em sua leitura. E você lê. Você lê, vê? Nota? Solitariamente, lendo, percebendo o que eu digo, buscando o sentido dos termos, caminhando sobre a análise do seu julgamento certo, sozinho, tão sozinho dentro da cabeça.

Notação é isso que faço. Anotação. Deixar a marca de um pensamento que veio, que me tirou do lugar, me levou à falta d’água, água e sal, biscoito, planeta, você. Até me deu sono esse pensar.

Julião Morsa
Enviado por Julião Morsa em 25/11/2016
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