O EVANGELHO SUICIDA

Por Antonio F. Bispo*

“Estou martirizando o teu corpo para salvar a tua alma”; “o teu corpo irá perecer mas a tua alma será salva e irá direto ao paraíso”; “estou livrando teu corpo do domínio das trevas e entregando aos domínios da luz”; “ Senhor, recebe esta pobre alma em teu seio”...Assim diziam alguns clérigos católicos na idade média para condenados prestes a serem queimados vivos, empalados, emparedados, esquartejados, serrados ou enforcados por crimes que nunca cometeram, ao serem forçados pelo próprio clero a assumir tais crimes, baseado num pecado construído pelo clero e dado ao povo para viverem sob culpa eterna.

Essa historia se repete todos os dias ainda hoje na fé cristã, só que de modo um pouco distorcido, convencendo os fiéis a condenarem a morte si próprios ao invés de serem condenadas por um conjunto de sacerdotes como acontecia antes.

Diariamente líderes religiosos condenam pessoas a morte e perseguições, quando de modo forçado procuram inserir suas igrejas e seus ritos litúrgicos em países além fronteiras como se estas fossem uma multinacional, apenas interessado na expansão comercial da fé, na divulgação da marca e do nome de sua igreja e na intenção do retorno financeiro, e não na intenção de melhorar a qualidade de vida das pessoas daquele lugar ou prestar-lhes algum tipo de serviço realmente útil por meio de ações proveitosas.

Grandes empresas de alimentos com as de refrigerantes, por exemplo, não se importam se estão condenando pessoas a morte lenta ao vender uma quantidade enorme de açúcar, numa embalagem com água gaseificada, artificialmente aromatizada como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo. Assim também algumas igrejas não se importam quantas pessoas irão levar ao martírio em países estrangeiros, quando entram nesse país para levar sua marca comercial em nome de uma divindade invisível.

Fincar bandeira em solo estrangeiro e vender a própria marca é o que importa. Se aquele que vai levar “o evangelho” e os que irão recebê-lo, irão assinar sua própria sentença de morte, também não importa mesmo quês seja apenas uma pessoa que venha receber essa nova fé em locais onde a média da população é de aproximadamente 20 mil mulçumanos para apenas 1 cristão. Condenam pessoas e vilarejos inteiros a destruição como se fosse a coisa mais sábia e mais inteligente a se fazer. Vendem um evangelho de morte como se fosse o evangelho da vida. Vendem a opressão como se fosse libertação. Enviam seus missionários a morte certa para serem destruídos com suas famílias e depois criticam homens bombas por se explodirem de modo intencional. Tudo isso para dizer que estão “trabalhando para o senhor”.

Em seus cultos de missões mostram fotos de pastores decapitados, vilarejos inteiros ou escolas queimadas com dezenas de mortos “por que não negaram a cristo”. Exibem isso como troféu, e no fim do culto conseguem arrecadar centenas, dezenas ou milhares de reais para financiar essa “obra do senhor” no exterior. O culto da morte que diz celebrar a vida. Quem contribui para esta obra, inconscientemente estar contribuindo pra morte de outros sem perceber. Só questão de distorcer um ponto de vista. Se o evangelho é boas novas e traz salvação as pessoas, não vejo por que abreviar seus dias de vida em favor de uma marca religiosa. Há modos mais inteligentes de promover a liberdade de um povo oprimido se for ocaso, apoiando pequenos grupos, que lutam para se libertar de regimes extremistas, por exemplo, entre outras.

A membresia dessas igrejas (coitados) como foram mutilado ao longo do tempo sua parte racional, não percebem que estão financiando a morte de outras pessoas. Depois oram, fazem clamor, e pedem pra Deus entrar com providencia, para que Deus venha cessar a fúria do inimigo. Eu porem vos digo: parem de enviar vossos missionários a matança! Parem de colocar carne fresca num ambiente de carnívoros famintos. Não culpem a Deus nem o diabo pela morte de inocentes que vocês mesmos condenam a desgraça, simplesmente para defender uma bandeira de igreja missionária. Se Deus é amor, missão, acima de tudo deveria ser amor. É valorizar a vida do outro como se fosse a sua própria, não vê-los morrer todos os dias por não negar a sua fé. Que amor estranho esse. A vida do receptor, quanto a do emissário tem o mesmo valor. Não considero amor, tirar uma pessoa ou família inteira de sua terra, seu pais, e sua família e enviá-lo para um país em que se sabe que vai receber de volta o corpo dessa pessoa numa caixinha todo cortado em pedacinhos, ou incinerado. Grande forma de amar!

Se por acaso amam mesmo as pessoas de países estrangeiros, seria mais interessante usar o dinheiro, para financiar grupos pequenos, já inseridos dentro do próprio país, que lutam para mudar leis absurdas em sua constituição, como a pedofilia, a mutilação genital, tráfico de pessoas, e feminicídio, coisas que são comumente aceitas entre certos povos ainda hoje. Há dezenas de grupos de minorias que lutam de modo diplomático para mudar essas leis. Investir para que mais magistrados ou políticos dessa linha assumam o poder, faz mais sentido do que condenar pessoas a morte e depois dizer que morreu por amor a cristo.

Poupem-me dessa falácia escabrosa, de que viver é lucro e morrer é ganho. Não faz sentido nascer pra sofrer e morrer por esse Cristo se ele nos chamou a vida. Segundo o que dizem dele, ele poderia mesmo antes do parto, conduzir todas as nossas almas direto ao paraíso, sem mesmo termos nascido ou “pecado”. Ter que nascer, pra sofre e morrer, pra não negar a sua fé, dar a idéia de que ele é uma pessoa mal resolvida, que precise que outros afirmem que ele é o que ele mesmo tem duvida de ser. Vamos deixar de levar certas coisas ao pé da letra e usar a lógica. Se esse Cristo é o filho de Deus e conserva em si todo o poder do universo, já que dizem que ele faz o que quer, a hora que quer, e se quiser por que ele é tudo e em si próprio incorpora tudo, não acham que se ele quisesse, convenceria toda essa população de “incrédulos” apenas com um estalar de dedo? Não acham que se ele quisesse bradaria dos céus, fazia tremer a terra, e se faria conhecido, temido e automaticamente? Estar escrito que ele, sendo Deus, endureceu o coração de faraó para que não deixasse o povo hebreu sair, até que destruísse toda nação do Egito só pra mostrar o “seu poder”? Acha que ele não tem poder de “amolecer” o coração da pessoas hoje se quisesse para o bem? Não acham que se ele quisesse perdoaria as pessoas pela “culpa” de terem nascido sem querer num país não cristão e mandaria todos direto para os céus? Ou será que ele só usa seus poderes quando é para destruir e reduzir um povo ao pó? Não acham que há uma contradição nessa linha de pensar? Pra quem tudo pode, tudo faz! Se não o faz é por que não o quer. Se pode, não faz e não quer, tem algum motivo, e não acho que seja o de nos usar como iscas para tal propósito. Não estou dizendo que ele tem ou não tem realmente esses atributos dado a ele. Estou dizendo que se ele pode e não quer fazer, seria suicídio de nossa parte tentar convencer o mundo a nossa “fé verdadeira”. Acho que no fundo temos prazer em ver os outros sofrerem apenas para fortalecer nosso ego e disfarçadamente dizemos que amamos essas pessoas.

Outra coisa que devemos levar em consideração, é que os lugares com maior quantidade de pessoas com aversão ao evangelho no mundo hoje, são exatamente os locais onde primeiramente o evangelho foi anunciado. Não é cômico? Se o evangelho é libertador, por que essas pessoas depois de 2 mil anos ainda,não estão libertas? Deve ser por que estão vendendo marca de igreja como se fosse evangelho ou terão de assumir que realmente o diabo tem o poder de atrapalhar os “planos de Deus” e para um Deus que não se deixa se vencido, já entramos em contradição.

Há coisas mais importantes que o dinheiro e a boa vontade de um grupo podem financiar. Em nossa própria vizinhança há muito mais a ser feito do que em países estrangeiros. O problema é que o “evangelho” ensinado nas igrejas parece ensinar que o próximo é quem estar longe e não quem estar perto. Para que doar 5 reais para uma família comprar pão e se alimentar num café da manha e ficar no anonimato, se você pode doar 5 mil reais para a “obra missionária”, e virar celebridade na igreja, mesmo sem saber se seu dinheiro chegou ao destino? Pra que matar a fome de uma pessoa que estar do seu lado, se você pode matar um vilarejo inteiro de crianças quando insiste em fazer prosélitos em campo minado e levantar o mais alto possível a bandeira de Cristo tornando aquelas pessoas como alvo livre num campo de batalha? Se é pra fazer ajuda humanitária, precisa levantar algum tipo de bandeira? Estão em solo marciano por acaso, e precisam dizer que ali chegou a raça humana? Se estão importando-se com a vida dos outros, por que condená-los a morte? Antes de oferecer a Cristo, por que não ajudar a afrouxar a lei daquele país primeiramente? Sei lá, tentem criar uma “bancada evangélica” no parlamento de lá também pra ver no que dar. O “pão da vida” oferecido lá fora, é semelhante ao pão da morte oferecido ao que estar perto a entrar no corredor da morte, só que este está ciente do crime que cometeu, enquanto o outro foi convidado a ser criminoso “por amor a cristo”

Não são missionários que irão mudar a historia de um povo ou promover sua liberdade. São pessoas com espíritos abolicionistas e revolucionários, capazes de lutar contra leis opressoras de modo em geral, e não para levantar uma bandeira partidária qualquer. São pessoas que ver a humanidade como um todo, e não como grupo seletivo. Pessoas que estão interessadas em doar e não em extrair o que o povo tem.

Mahatma Gandhi sozinho em poucos anos, talvez tenha feito mais pela Índia, do que 100 mil missionários cristãos juntos em 300 anos, e leve-se de passagem que ele não era cristão, leu a bíblia, e achou as idéias de cristo revolucionarias e aplicáveis para libertação de um povo. Tiradentes em sua época, talvez tenha feito mais pelo Brasil do que toda a equipe de missionários católicos e protestantes da época, que a mais sabiam fazer era escravizar o povo da terra, forçá-los a extrair os recursos daqui para enviar a “igreja mãe” na Europa.

Enquanto os discípulos Cristo, inicialmente saiam a pregar e ensinar uma nova doutrina sem se preocupar em manter o povo em currais, os missionários de hoje, seguindo o modelo tradicional de suas igrejas enviadas, usam técnicas aplicadas, considerando crentes, salvos, ou fiéis, apenas o que levantam a mão, aceitam a Jesus e freqüentam seus templos. O interesse é de formar currais, para depois um pastor ir e ordenhar aquelas ovelhas mensalmente, expondo as pessoas ao perigo total por se declararem abertamente seguidoras daquela linha de pensamento. Se esse modelo de evangelho realmente libertasse alguém, o Brasil seria o país com menor numero de prisões, cadeias, presos, corrupção e violência considerando que mais de 90% de sua população diz ser cristã.

Homens que lutam pela igualdade e liberdade entre as pessoas podem sim mudar o curso de um povo e sua qualidade de vida. Homens que põe Cristo na frente para expandir seu território de lucro jamais farão nada proveitoso a curto e longo prazo por ninguém, apenas estarão aprisionando-as em outro nível de realidade fantasiosa ou condenando-as a morte. Precisamos mais de revolucionários do que de missionários. Digo revolucionários e não anarquistas, baderneiros, que destroem um sistema sem ter outro melhor para oferecer. Revolucionários quando vem a derrubar um regime, já tem outro melhor implantado ou em andamento pelo menos. Nada de deixar a ermo os que se envolveram em uma causa com eles. Seria entregar ao martírio o herói depois da conquista.

Precisamos reanalizar essa forma errada de “amar” o próximo que estar longe contribuindo para sua morte , quando desprezamos o próximo que estar próximo, ao nosso lado, fechando os olhos as suas necessidades básicas ou dignidade.

Se igrejas querem realmente ajudar pessoas lá fora, invistam em seus grupos na formação de diplomatas, embaixadores, advogados internacionais ou pessoas que possam lutar por dignidade, segurança, moradia, alimentação e educação e não apenas pelo livre direito de cultuar. A velha mentalidade mosaica inserida em cada seguidor do deus hebreu: tem de destruir um povo inteiro, destruir a vegetação do local, deixar o solo improdutivo e matar todos os primogênitos, pela simples liberdade de cultuar a esse deus.

Já pensou que aberração? Se realmente esse deus hebreu é o criador da humanidade como os cristãos dizem ser, ele não estaria mais interessado pela manutenção da vida e da ordem social entre suas criaturas, do que em um punhado de pessoas se reunindo, pra dizer que ele é lindo, que ele é santo, que ele é poderoso, maravilho e bla,bla, bla? Se ele é tudo de bom,ele já sabe disso! Louvor é para os fracos, para corações humanos que ainda não foram iluminados. Nenhuma divindade que se preza, vai exigir louvor próprio tendo como base o sofrimento alheio. Não faz sentido! Se ele é supremo em tudo, nada que façamos ou deixamos de fazer, vai acrescentar ou diminuí-lo em nada. Se ele é, é! Se não é não é! Que sentido tem condenar a morte dezenas de pessoas, pelo simples interesse em adquirir liberdade religiosa, para se reunir e adorá-lo se ele não precisa dessa adoração para continuar existindo? Que sentido tem adquirir a liberdade de culto se ao mesmo tempo você perde a liberdade de viver e existir? Cultuar é mais importante que viver? Lembrando que a maior parte da multidão que foi convidada por Moisés a cultuar fora do Egito, foram quase todos mortos, simplesmente por questionarem seus líderes, ou por extinto de sobrevivência querer proteger seus filhos e sua própria vida ao procurarem comida, água e abrigo num deserto escaldante. Eles nunca tinham tido a experiência de adorar a um “deus invisível”. Todos os deuses conhecidos do Egito tinham sua representação física e palpável, fosse por meio de estatuas ou pelo rei, o deus encarnado em forma humana segundo eles. Eles só queriam respostas para suas duvidas. O instinto de sobrevivência dada por esse mesmo deus criador falava mais forte do que a fé no que não se ver. Não havia nenhum modelo de culto conhecido ainda baseado nessa crença do deus invisível. Que culpa eles tinham de duvidar diante da fome, do perigo e da espada? Toda estrutura se abala mediante aos terremotos. O mínimo que esse bondoso e piedoso deus que os convidou para cultuar fora poderia ter tido com essas pessoas era paciência e misericórdia pela falta de experiência deles. Lembrando que de Abraão,o cara que falou com o deus invisível até esse povo, forma 430 anos, o povo nem se quer lembrava desses detalhes. Prive uma multidão de água e comida e eles agirão como animais. Um ser onisciente deveria saber disso. Até um fazendeiro analfabeto sabe disso. Perguntar de onde vem a comida ou abrigo não ofende. O duvidar de outrem também não ofende ao que estar seguro de si. Nunca esqueçam que os que foram convidados a cultuar nessa ocasião pereceram todos no deserto ao longo de 40 anos, para darem lugar a uma nova geração de conquistadores, incendiários, latrocinas e sanguinários que saiam de cidade em cidade, destruindo tudo em nome dessa crença. Palmas para quem os puniu após receber o culto! Acho que a vida vale mais que um culto. Impossível acreditar que um ser de luz precise se alimentar do ódio, dor, medo, morte e sofrimento alheio para manter sua existência. Bom reanalizar-mos a quem cultuamos. Se somos o que comemos, um ser que se alimenta do sofrimento alheio deve ser questionado.

Vamos usar nossos recursos para promover a igualdade entre os homens, e não pra financiar o ego dos deuses. Se bem que as maiores guerras já travadas na humanidade, foram exatamente para manter a idéia de um deus tal ou qual funcionando. A idéia! Simplesmente a idéia. Pois o deus defendido morre quando seu povo ou seus adoradores morrem. Foi sempre assim ao longo da historia. As pessoas morreram, e a idéia desses deuses morreram ou foram incorporadas a outros deuses mais existente. Tipo assim: se o deus de um povo sabia lavar e cozinhar e o do outro sabia passar e varrer, o deus vitorioso na batalha incorpora também a qualidade do deus vencido, e agora sabe lavar, passar, cozinha e varrer. Entendeu? Quanto mais povos destruídos, quanto mais pessoas mortas em guerras santas, mas o deus da nação vencedora adquire mais poderes. No mundo cristão alem desses fatores, os atributos dos deuses também foram moldados segundo a imaginação dos filósofos da época. Quanto mais poético, romântico ou insensível era um filosofo ou teólogo cristão no inicio do cristianismo, essas qualidades também eram repassadas aos deuses e santos que até hoje se venera. A mente dos filósofos pariam a forma e a personalidade dos deuses, os concílios registravam a paternidade, e o povo cultivava os ideais reproduzindo-as e adaptando-as ao longo dos tempos. Essa base de crença tem sido assim pelos últimos 15 mil anos em nossa raça, senão mais que isso.

Se quisermos agradar aos deuses criadores da raça humana, talvez o melhor caminho seja preservarmos uns aos outros e amarmos uns ao outros, deixarmos de sermos partidários e lutamos pelo bem estar de todos, a menos que creiamos que desde a fundação do mundo o Criador Absoluto tenha criado uns para condenação e outros para a perdição eterna. Ai todo discurso encerra, toda fala cessa, toda ação é inerte e nada podemos fazer, e vamos apenas sentar e esperar pra ver no dia do juízo final que vai pra seleção e quem fica na perdição, já que não temos como saber os insondáveis mistérios de deus estabelecido pela igreja católica.

Acredito num lema muito antigo, adotado recentemente por algumas sociedades secretas. Acredito que no dia em que nos importamos mais uns com os outros do que com os deuses, nesse dia será possível IGUALDADE, LIBERDADE E FRATERNIDADE.

Escrito em 21/10/16

*Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 22/10/2016
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