Filosofia não é para pobres

Após o anúncio do MEC, dias atrás, de que ocorrerá uma reformulação do ensino médio, retirando a obrigatoriedade de certas disciplinas da grade curricular da educação básica, dentre as quais a Filosofia, gerou uma polêmica imensa sobre que tipo de educação que o país necessita e o que deve ser feito para atingir tal objetivo. Após várias críticas, o governo federal está relutando, mas não descarta essa possibilidade.

Para dizer a verdade, percebe-se, quem é bom observador, que não se sabe qual formação escolar querem para o povo brasileiro... bom! na realidade sabe-se o que não quer: uma educação que ensine a pensar de maneira autônoma (se é que é possível ter autonomia de pensamento, de fato).

Foi pensando nisso que fiz uma breve reflexão sobre o papel da Filosofia e qual a sua importância para a sociedade. É algo superficial, bem próximo do senso-comum, mas que tenta, assim mesmo, ir além de ideias medíocres.

Considera-se que a Filosofia tenha surgido na Grécia Antiga. Digo "considera-se" porque há controvérsias. Mas não vou entrar nessa problemática agora. Nesse momento, parto do princípio aceito que a filosofia, da fusão de duas palavras (philos: amor; sophia: sabedoria), "amor pela sabedoria", nasceu entre os gregos que, a partir da reflexão e observação, procuraram explicar a existência humana e os fenômenos da natureza sob uma ótica racional, livres de conclusões sobrenaturais. Quem eram esses filósofos? Além de serem gregos (rs), eram homens, a maior parte vindos de famílias ricas, e livres. Ou seja, era uma pequena parcela de uma sociedade que tinha o privilégio de não se dar aos trabalhos manuais, uma vez que tais serviços eram realizados exclusivamente pelos escravos, e, na cultura grega, era vergonhoso qualquer forma de trabalho manual, por parte, digamos assim, da alta sociedade. Com isso, os privilegiados, os ricos, os aristocratas, eram os que encontravam tempo para se dedicar ao conhecimento. Da mesma forma, durante o período medieval, quando a Igreja possuía grande domínio, somente alguns membros do clero tinham acesso ao conhecimento.

Não é à toa que a maior parte dos grandes filósofos da Idade Média eram padres! E não eram quaisquer um.

No Renascentismo, também nas Idade Moderna e Contemporânea, a mesma coisa. Os grandes pensadores eram da alta classe. Até mesmo aqueles que idealizaram o socialismo, corrente que defendia o fim da propriedade privada e da divisão de classes, eram membros oriundos da burguesia, que já havia concretizado o domínio do poder econômico e político a partir dos séculos XIX e XX. Enfim, assim como na Grécia dos primeiros filósofos, os mais abastados e privilegiados possuíam o direito de pensar, de estudar, e, assim, terem a oportunidade de se libertarem das correntes que os prendiam, ou seja, a ignorância. Aquela que impede o ser humano de pensar em outras maneiras de ver o mundo e tentar transformá-lo. Sendo assim, por que então proporcionar o ensino de Filosofia aos membros das classes baixas? Por que dar a eles um instrumento que combate todas as formas de ideologia? Filosofia não é para pobres. Filosofia não pode ser para atender os pobres.