NÃO PAGUEM PRA VER

Atirem a primeira pedra meus senhores. Sabeis que já não sinto medo, nem raiva. Eu apenas os ignoro. Abjetos, é o que são. Abjetos e deploráveis e rufiões. Rufiões da riqueza nacional, prostitutas morais. Suas morais não respeitam a vida. Ora, sei o que trazes à mão. Trazes o contrato, o contrato que ceifará vidas. Plantadores de pestes e pragas, sois o cavalheiro com a foice à mão e sem ligar para as dores que causarão, cortarão cabeças. Sois o carrasco. Sois o carrasco com seu terno de seda e gravata de grife, mas a suas mãos escorrem o sangue, o sangue da mãe abandonada no chão do hospital. Trazem à mão o sangue da criança faminta, trazem à mão a sífilis nos portos. Ora! Não me venham vomitar teses, isso é para os acadêmicos, para os que alimentam o status quo em troca da imagem no horário nobre. Plim plim, e o comercial anunciará o tênis que se produz à custa da escravidão na Tailândia, em Cingapura ou outro lugar, não importa. A grife é que é o “The Best”, dirão os novos ricos na Oscar Freire. É a vilania desfilando na passarela da vida. Atirem, eu os desafio, atirem a primeira pedra. Não atirarão, pois a pedra as compram no sobre preço, nas licitações fraudulentas. E não me venham pedir provas, elas não existem simplesmente porque o preço é combinado. Então, as favas com provas, as favas com discursos moralistas, projetos e obras inacabadas. E as escolas, me digam, como vão as escolas? E os professores, outrora profissão enaltecida e fonte de orgulho aos profissionais. Vocês destruíram esse sonho. Transformaram os professores em quase mendigos. Aliás, já pensaram nessa população? Claro que não! Vocês preferem transformar isso em caso de polícia, quando, a bem da verdade, não é caso de política. Mas não. Vocês preferem a polícia, a polícia truculenta e igualmente mal preparada, a polícia com seus míseros salários. Já pensaram quantos policiais morrem no... bico. Sabem o que é bico. Eu vos direi, eu vos direi porque sei o que é bico. Bico é a falsa, porém incentivada, possibilidade de se aumentar a renda para poder garantir o mínimo de dignidade à família. E os senhores, sanguessugas sociais, com lindas falas à mídia, despejam considerações acerca da proibição de se fazer bico. Ora! Bazófias, somente bazófias, torpes discursos midiáticos. Então, nada mais resta. Nada se pode quando os vejo em comícios e eventos institucionais. Sinto nojo, sinto a empáfia com se dirigem à plateia, a plebe que sofre com suas escancaradas mentiras. Mitômanos! Mitômanos desde o DNA. Sois a vergonha da espécie, sois o cadafalso por onde transita o povo e vós, nobres e “respeitáveis” senhores, desferirão o machado sobre nossas cabeças e sairão risonhos para mais um jantar político e, quando acordarem, depois de uma noite em lençóis de linho e cobertores felpudos, sentarão à farta mesa e comerão brioches e pães integrais com o mais puro mel. Também irão à missa, e lá, após pedir as bênçãos do padre e saciarem á hóstia, já não mais terão pecados, pois, a caixinha das ofertas estará abarrotada e o templo terá novas cores. Plantadores da morte. Sois o agricultor do fim da vida. Sois aquele que vem e atrás de vós o rastro de sangue indica seu percurso. Cairão! Cairão sob o jugo da espada do povo. Cairão pelas mãos daqueles que trouxestes a dor e a fome. Cairão sob os pés dos que andam descalços. Cairão sob os gritos daqueles que enganaram. Cairão! Cairão e serão levados pelas águas dos rios que poluístes. Cairão sob as enchentes que um dia levaram vidas e sonhos e moradias. Cairão, eu sei que cairão, sob as mãos daqueles que mandastes algemar. Cairão sob os gritos das viúvas que fizestes chorar quando seus maridos lutaram por um mundo mais humano. Cairão sob aplausos das infâncias roubadas e crianças abandonadas a própria sorte. Cairão sob os olhares atentos daqueles para os quais construistes prisões no lugar de casas. Cairão sob a bandeira da igualdade em lugar daquela que determinava ordem e progresso, mas que escondia ordem para o povo e progresso para quem manda. Ora, cairão e será o dia em que o povo mandará no seu destino.