Saudação e Agradecimento aos Formandos de 1993

SOCIEDADE EDUCATIVA ITAUNENSE

COLÉGIO JOÃO DE CERQUEIRA LIMA

ITAÚNA – MINAS GERAIS

Saudação e Agradecimento aos Formandos de 1993

Discurso proferido no dia 17 de dezembro de 1993

Professor Arnaldo de Souza Ribeiro - Paraninfo

Digníssimo Senhor Diretor do Colégio João de Cerqueira Lima, na pessoa de quem cumprimento a todos os presentes.

Meus queridos formandos,

Permitam-me, mais uma vez dirigir-lhes na forma que os tenho e que melhor traduz o carinho e o respeito que sinto por todos vocês: meus caros meninos.

Gostaria também, nesta oportunidade, na condição de professor e paraninfo, dizer-lhes estas breves palavras à maneira sempre fazia em nossas aulas “nobres”, ou seja, naquelas em que andava entre as carteiras, bem próximo de cada um e, em alto e bom tom, declinava a matéria. Embora queira, não posso, por estar certo de que a alegria e a emoção não me permitiriam e certamente perderia ou trocaria as palavras; por esta razão farei uso da tribuna e de meus apontamentos.

Enquanto estiver a falar, se minhas mãos começarem a tremer e a voz não se mantiver firme, estejam certos: é porque não consegui conter a emoção.

Adianto-lhes que minhas palavras serão: de esclarecimento, reconhecimento e também de incentivo, mas prometo, serei breve.

Por várias vezes tivemos a oportunidade de asseverar em nossas aulas:

“Ignorar o passado é estar sujeito a repetir os mesmos erros.”

Sabemos que a história sempre se repete, em locais, situações e com pessoas diferentes, porém sempre mantendo a forma e a semelhança nos resultados. E para nos proteger é um bom caminho conhecê-la, conforme sabiamente já doutrinou o cantor e compositor Geraldo Vandré, na inesquecível e eterna canção - Para não dizer que não falei de flores, em especial nesta passagem:

“Vem vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora não espera acontecer”

Para melhor elucidar a importância dos acontecimentos históricos voltemos, ainda que brevemente, à Inglaterra do século XVII, para encontrarmos a figura de um homem emblemático, que ajudou a mudar e consolidar a história da Inglaterra: OLIVER CROWEL, líder de uma guerra civil que, sensível às necessidades do povo inglês, depôs e executou um rei, fechou o parlamento para reconstituir um governo próximo da inspiração e desejo popular.

OLIVER CROWEL governou a Inglaterra de 1653 a 1658 e seu governo em muito colaborou para torná-la uma grande potência naval e também, dar-lhe prestígio internacional.

Seu plano de governo tinha como objetivo prioritário: reorganizar a fazenda pública, estimular a liberalização do comércio e reformar a igreja nacional obedecendo aos princípios de tolerância. Dentre os pontos relevantes deste procedimento de reorganização da Inglaterra, deu especial ênfase aos estabelecimentos de ensino com acentuado destaque para as Universidades.

Preconizou que todo cidadão inglês teria acesso à proteção legal, ao trabalho, e à escola e, sobretudo, comprometeu-se que:

“Aquele seria o século da liberdade e do saber.”

E OLIVER CROWEL cumpriu o prometido; em 5 anos de governo fez surgir uma Inglaterra livre e próspera que se notabilizou como o berço da liberdade e rainha dos mares.

E qual o mistério desse progresso?

Administração sólida e responsável, fundamentada nos princípios gerais do direito, com escola e trabalho para o povo.

E tanto isto é verdade que, 200 anos depois, no século XIX, o imortal jurista Rui Barbosa, a ela se referiu como:

“O berço da liberdade e do saber.”

Ainda hoje, apesar dos deslizes protagonizados por membros da família real, a Inglaterra notabiliza-se pela liberdade, pelo respeito às leis e pela exemplar cultura de seu povo.

Portanto, vem a história comprovar, que o progresso de um povo passa necessariamente por uma administração responsável, atenta e comprometida com as necessidades básicas, representadas basicamente pelo acesso a escola e ao trabalho.

Por acreditar também que é imprescindível o conhecimento para a completa formação do cidadão, sinto-me gratificado por estar aqui, nesta maravilhosa noite e compartilhar com os senhores deste singular e feliz momento. E digo mais, vocês merecem este momento de felicidade e também, de comemorá-lo em grande estilo, uma vez que ele é a resultante de, no mínimo, 11 (onze) anos de escola, do primário ao 3º ano de contabilidade.

Estão hoje vivendo este momento de glória do fim de uma jornada e começo de outra, cientes que a vida é um eterno começar.

Permita-me uma breve e importante advertência na forma de conselho e devo dizer que, fico à vontade para fazê-lo, com a autoridade de quem já o viveu.

A jornada que os senhores agora iniciarão ao transporem as arcadas desta Casa de Ensino, sem dúvidas será mais árdua que esta que ora finda, ou seja, vocês deixarão a teoria, auxiliados por seus mestres, para iniciarem o exercício prático de uma profissão em um País, onde as legislações modificam-se e são substituídas com freqüência.

Mas não faz mal é até bom que assim o seja, pois, sabemos que é nos momentos mais difíceis, que mais aprendemos.

Recomendo-lhes que tenham sempre em mente aquela sábia afirmação Aristotélica, em que o notável filósofo grego, muito antes da era cristã, preconizava:

“Mais se valoriza, aquilo que com mais dificuldade se consegue.”

Estou certo que os senhores, formandos de hoje, não se curvarão diante das dificuldades, pela determinação e pela força de caráter que pude perceber em cada um de vocês enquanto alunos.

Estou certo que os senhores irão longe... muito longe...

Fundamento esta assertiva, por ter os senhores aqui chegado, superando todos os empecilhos que encontraram ao longo do caminho, comprovando assim a determinação e a firmeza de propósito de cada um.

São alunos de escola noturna e a maioria, eu sei, trabalham durante o dia e no começo da noite, ao contrário de recolherem-se ao aconchego de seus lares, para reencontrarem-se com seus familiares ou sair em busca de lazer; dirigiam-se para a Escola e na maioria das vezes cansados, trazendo problemas de ordem pessoal e profissional, mais mesmo assim, vinham, estudavam e aprendiam.

Além das dificuldades pessoais, devemos acrescer as dificuldades financeiras e a falta de apoio dos governantes: para estes, o ensino nunca foi prioridade, pois sabem que, quanto menos um povo souber e mais analfabeto for com menos esforço será dominado e influenciado.

Basta ver que, tão somente 0,024% (zero vírgula zero vinte e quatro por cento) do orçamento da União é destinado à cultura e para conseguir vagas nas Escolas Públicas, além do cadastramento é necessário dormir em desconfortáveis filas, por sucessivas noites ao relento, conforme mostram os jornais escritos e televisivos.

Lembrando também que o ingresso nas UNIVERSIDADES FEDERAIS é privilégio de poucos.

Para avaliar as dificuldades e o louvor que merece cada um dos senhores, basta que fechem os olhos e retornem em pensamento: ao primário, ao ginásio ou mesmo ao curso que ora finda e se lembrem de todos os companheiros que iniciaram a jornada e que ficaram pelo caminho, não conseguindo chegar hoje junto com os senhores para compartilharem deste augusto momento.

Estamos no Brasil e aqui, tão somente 1% (um) por cento da população consegue chegar a um curso superior e nem todos que a ele chegam conseguem concluí-lo e muitos que o concluem, não conseguem exercê-lo. Conseqüência das dificuldades que o Brasil e os brasileiros estão enfrentando. E quando eles não as enfrentaram?

Talvez antes de seu descobrimento.

É importante lembrar que não existem dificuldades que não sejam vencidas pelos homens e pelas mulheres que trabalham incansavelmente e que bem desempenham seus papeis, fundamentados no saber.

Ademais, sempre houve lugar para os bons, estes foram e sempre serão necessários.

Creio ser oportuno neste momento citar a célebre frase de Victor E. Frankl, aquele psiquiatra que ficou preso durante 8 anos em um campo de concentração:

“Somos nós quem determinamos nossos limites.”

Estou certo que os senhores determinaram limites audaciosos para suas vidas e não tenho dúvidas que conseguirão atingi-los, para se realizarem como pessoas, para a alegria de seus pais, que tanto fizeram e torceram por vocês e, sobretudo, para a grandeza do Brasil.

Estamos às portas do terceiro milênio, hora de renovar nossas esperanças e aumentar nossos trabalhos em busca de um mundo melhor.

Portanto, eu lhes aconselho: trabalhem incansavelmente, sejam honestos e procurem exaustivamente o caminho e uma ocupação que lhes façam felizes e, acima de tudo, que possam colaborar para que tenhamos um mundo melhor.

E amanhã, quando estiverem respondendo pelo destino deste imenso País, na condição de pais, mães, professores, contadores, economistas..., enfim, qualquer que seja a função, peço-lhes: sejam tão bons e autênticos como o foram enquanto alunos.

E que Deus, na sua imensa sabedoria e misericórdia os proteja e os faça felizes.

E mais uma vez, muito obrigado a todos, pela felicidade que me proporcionaram durante este ano, na condição de professor e pela honra de ser o paraninfo e doravante, tê-los na condição de afilhados.

Estejam certos, vocês e esta noite ficarão gravados em minha mente e no meu coração, pois nunca nos esquecemos dos momentos em que fomos felizes de verdade. E devo confessar-lhes que estou feliz, muito feliz por tê-los a partir de agora, como ex-alunos e eternos afilhados.

Boa noite a todos.

Muito obrigado.

Sejam felizes.

Que Deus os abençoe e os proteja.

Itaúna, 17 de dezembro de 1993.

Professor Arnaldo de Souza Ribeiro.

- Advogado

Obs. Discurso publicado no livro: Magistério: estudos, pesquisas e palestras. 1. ed. Itaúna: Vile – Escritório de Cultura, 2014, p. 25 a 30.