Não entendi nada!

Era, no início, uma estória assustadora; depois, com o passar do tempo, nem tanto. Eu, vou confessar, gosto muito de vírgulas, tive um pouco de medo, mas superei, machista que sou; explico: disse isto porque ainda guardo na genética, resquícios da cultura que aprendi com meu pai, que aprendeu com a cultura de meu avô, que aprendeu com a cultura de meu bisavô, tataravô, vô.

Não tem nada a ver com a estória inicial, mas quis explicar assim mesmo. Ah!, sou assim mesmo, também gosto de tudo muito explicadinho. Explico tanto que às vezes me perco em tantas explicações e só vou me encontrar de novo em outra estória, diferente do início.

Esta era de medo, no início, moderado, depois, e finalmente, fraquinho no final. É assim mesmo, no final, o medo está desgastado, enfraquecido, e saí em busca de novos personagens. Neste caso, eu já estava quase no final da estória, e o medo e a trama nem seduzia tanto, não era como num filme de terror, no máximo, um suspense.

O medo, na maioria das vezes, é imaginário, noutras, é real demais, e no meio termo, o cérebro fez misérias comigo, suado, gelado, mistura de sentimentos e sensações que a razão não consegue entender, muito menos explicar, não neste momento.

Estou no meio da estória, ainda aterrorizado, tentando passar para a próxima fase, como num videogame. É triste, estou numa cidade distante, longe de tudo e de todos, sem dinheiro, sem perguntas nem respostas, sem entender nada. O que estou fazendo nesta estória? E, entre vírgulas e mais vírgulas, pontos sem referência, continuei, mas minha estória, realmente, não era esta, era outra, e eu não sabia, qual? Perguntas que nunca terão respostas, pelo menos convincentes.

Eu estava longe demais de mim mesmo, perdido, buscando algo que eu nem sabia o que era e as armadilhas, se já estavam ali, é lógico que eu iria cair, era questão de tempo, e o tempo é perigoso, ardiloso, engana e seduz, amacia e depois prende, soltando apenas anos depois, quando o rosto já apresenta as primeiras rugas e o corpo já mostra que não tem a mesma elasticidade de antes e apenas a "cabeça" agora já sabe que foi uma armadilha mesmo e que caiu, não tinha saída, era a única entrada.

Os anos dourados, os anos áureos, se passaram, se foram entre uma viagem e outra, entre uma escapada e outra. Os verões passam rápido, pensei. O inverno, nem tanto. No início, nem pensava nisto, agora já penso. As mudanças são naturais, acontecem com todo mundo, imagino, comigo não seria diferente. Aconteceu comigo, e daí? Aconteceu com tantas outras pessoas. Vou reuni-las, todas, que passaram pela juventude e não perceberam a velocidade, o tempo desaparecendo, existe isto? Era fabulosa, agora é assustador. Não era para ser assim, não era mesmo. Tinha que ser ao contrário, como aprendi, lembram? Resquícios dos resquícios dos resquícios que vêm de geração em geração, machista, mas não era para ser assim, não era mesmo, agora, que a estória está no final, que fim terei eu?

Era medo mesmo, assumido, não havia mais nada para ser feito,além de ser sentido, e no fim, não entendi nada, não expliquei nada, não consegui chegar onde queria, fui a tantos lugares, não encontrei ninguém, busquei tanto, momentos que agora estão distantes demais, e que parecem, relativamente, passaram tão rapidamente, a mente, é tudo culpa dela. Não entendi nada, agora é vencer o medo e finalizar a estória, se é que terá um final.

florencio mendonça
Enviado por florencio mendonça em 02/05/2008
Reeditado em 26/10/2012
Código do texto: T972031
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