MEUS PERSONAGENS QUERIAM ME MATAR

Resolvi tirar minhas sonhadas férias. Afoito, eu estava com as minhas malas prontas na noite anterior. Férias! Resolvi que não iria escrever uma crônica. Apenas captar novas idéias, novos personagens e dedicar ao meu romance. Como iria para Araxá, uma agradável cidade aqui das Minas Gerais, resolvi ir de ônibus. Ao entrar, o motorista me cumprimentou com um olhar diferente e percebi que o conhecia.

Sentei-me no meu banco e ao meu lado um senhor que também não me era estranho puxou conversa comigo. Contara que a última vez que viajou naquele ônibus, o motorista estava tonto e quase levou o veículo para o barranco. Suei frio. Que ônibus era aquele? O pior que ele ria ao contar o caso. Depois, me contou que adorava pescar no rio de sua cidade e que na última vez, pescou um tubarão. Ah! Reconheci o camarada. Era o Úmero, o homem que adorava mentir.

Resolvi dormir e um jovem com o som do seu celular no último volume me acordou. Ao seu lado uma linda morena, que pelos beijos, devia ser a sua namorada. Por um momento eles discutiam, ela não se conformava que seu namorado Irieldo, de apenas 15 anos, perdera a virgindade com uma prostituta. Ela se levantou e deixou o rapaz sozinho...Triste da vida. Estava tão apaixonado. Claro que eu reconheci o rapaz, era o jovem que ganhou o dinheiro do pai para perder a virgindade em uma “casa de massagem”.

O ônibus parou na primeira rodoviária e entraram dois homens conversando. Um estava relatando ao outro que seu Palio zero quilometro ficou amassado, pois seu amigo havia enfiado o carro em uma árvore. E o outro anotava o que ele dizia, afinal o Palio bateu na centenária árvore de Belo Horizonte e a derrubou. Era o Celisbelto. E ele se defendia dizendo que não era ele que dirigia... O jornalista Maurílio anotava tudo e queria fazer uma matéria de capa, como foi o da prostituta Rosa da Noite.

Nesse momento comecei a ficar nervoso. Peguei um jornal e escondia a cara, não queria que os meus personagens me reconhecessem. Até tentei descer naquela rodoviária, mas o motorista fechou a porta e deu uma risada sinistra. Estava pálido. Era o próprio Rousvaldo, que tinha ao seu lado, uma bolsa cheia de remédios. Um ex-jogador de futebol hipocondríaco.

Sentei-me novamente e vi Rosa da Noite sorrindo para mim e me chamando. Fechei os olhos. Só podia ser um delírio de um escritor estressado e afim de umas férias. Todos os personagens publicados aqui neste site estavam ali... Dentro do ônibus. Adormeci e quando acordei todos tinham sumido... Quer dizer... Todos estavam em pé me olhando, cada um com um olhar de indignação. Por que aqueles nomes? Por que morrer no campo de futebol? Por que, por quê? Rousvaldo estava mais indignado com os nomes. Por que não José? Rodrigo? Maurício? Mais não... Rousvaldo. Parecia um latido de cachorro. Rou...rou...rou...

Rousvaldo que estava dirigindo apertou o acelerador e todos apoiaram aquele personagem. E gritavam para jogar o ônibus no barranco. Eu jurava que iria mudar o meu estilo literário. Mas, nada adiantou... Uma forte buzina, som de pneu arrastando no asfalto e... acordei... Estava deitado na minha cama, com a mala ao lado. Iria viajar. Tudo não passou de um sonho. Corri para a rodoviária. Quando entrei no ônibus e vi que conhecia aquele motorista, dei um sorriso e desci. Era melhor deixar as férias para depois.

P.S: Você encontra esses personagens aqui no Recanto das Letras, nas minhas crônicas.

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