SOGRA NOTA DEZ

Meu genro é um abestado...

Aquela caricatura de homem vive falando mal de mim...

Devia haver um dia anual da vingança...

Um dia onde realmente todas as sogras pudessem incinerar um pouquinho só os genros...

Não todos...

Só os que sobrevivessem das nossas línguas venenosas...

Ato falho... Eu não disse isso...

O meu dia da vingança chegara...

Meu netinho tinha de fazer uma redação para a escola...

Coisa simples...

Uma pequena redação falando sobre alguém que ele gostasse muito...

Não deu outra... Era eu... A avó...

Fim de semana... Macarronada devorada... Meu genro com a cara cheia de caipirinha e cerveja roncando no sofá da sala...

Vó... Ajuda eu... Pediu-me meu neto...

Toda solícita como sói acontecer no relacionamento entre avós e netos, que apesar de filhos dos genros, neste caso, e noras herdam o sangue bom da avó, dispus-me a ajudá-lo...

Vó, eu tenho que fazer a redação falando de alguém que goste e eu queria falar da senhora... O que a senhora quer que eu escreva...

Pensei num monte de coisas, mas a redação era para a quarta série... Não podia exagerar...

Ele queria me elogiar... Escreveu sobre as histórias que eu lhe contava para dormir quando ficava em casa, dos doces que eu fazia e do que eu comprava escondido da mãe e do dentista, das pequenas artes que encobria, das ameaças de delação que eu fazia para minha filha quando o chinelo ameaçava cantar... Contar umas coisinhas da infância dela...

Ele ia perguntando, eu ia contando, ele escrevia do jeito dele...

Ficou bonitinha a redação...

Um ronco mais forte devolveu-me a atenção ao impertinente corpo que estava no sofá...

A idéia da vingança...

Voltei-me para meu neto e perguntei-lhe se podia dar uma nova lidinha na redação e sugerir um título...

A visão do sapato de meu genro no sofá e almofada babada foi decisiva...

Meu neto concordou com a sugestão de nome e a redação foi rebatizada de “Minha adorável avó” para “Meu pai falou de minha adorável avó...”

Meu netinho tirou nota dez, mostrou para o pai e...

Eu estava vingada...

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 22/04/2008
Reeditado em 26/04/2008
Código do texto: T956869
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