MORRER ESTÁ MAIS CARO

Quando seu Jusuvaldo estava nas últimas, ontem, em um hospital, aqui em Belo Horizonte, ele viu uma notícia nos jornais mineiros que o fizeram desistir de morrer. Jusuvaldo leu que a taxa de enterro e o preço do jazigo nos cemitérios de Belo Horizonte serão reajustados em até 580%. E esse valor ficará maior que o cobrado por particulares.

Leia o que Jusuvaldo leu no jornal Estado de Minas:

Quem morre em Belo Horizonte não deixa apenas saudade, mas também uma conta alta para a família pagar. Decreto assinado pelo prefeito interino Totó Teixeira (PR) e publicado no Diário Oficial do Município (DOM) reajustou os preços de todos serviços funerários nos quatro cemitérios públicos da capital, com índices entre 15,6% e 580%. A taxa básica de sepultamento triplicou: passou de R$ 123 para R$ 368. Com as mudanças, ficou mais barato comprar jazigos em cemitérios particulares, como Bosque da Esperança (R$ 5,6 mil) e Parque Renascer (R$ 5,7 mil), do que nos tradicionais cemitérios da Paz (R$ 6,6 mil) e do Bonfim (R$ 9,9 mil), na Região Noroeste, que tiveram os preços dos jazigos reajustados em 112% e 73%, respectivamente. Em termos percentuais, o aumento mais alto ocorreu no Saudade, na Região Leste, principal opção de famílias mais simples. O jazigo, que custava R$ 2 mil, passou para R$ 4,7 mil, variação de 131%.

Sua filha chegou ao hospital e o médico disse-lhe que Jusuvaldo estava nas últimas. Ela pediu, então, que entrasse no quarto para despedir do pai. Quando entrou, Jusuvaldo estava com a roupa trocada e colocando o chinelinho, que usou o tempo todo no hospital, na sacolinha plástica de um supermercado. Ela levou um baita susto e ele mostrou o jornal pra filha:

- Desisto. Pra morrer caro desse jeito, prefiro ficar vivo.

A filha pegou o jornal e leu o restante da notícia.

O secretário municipal de Finanças, José Afonso Bicalho, informou que os aumentos são para cobrir o “déficit” nas contas da Fundação de Parques Municipais, responsável pela administração dos cemitérios, que estaria gastando mais do que arrecadava. Outro objetivo seria cobrar valores mais próximos dos praticados pela iniciativa privada. “A receita dos cemitérios não cobre o custo de manutenção e quem subsidia a atividade são os contribuintes. Atualmente, usamos recursos de impostos para cobrir o déficit. Tomamos como base os preços dos cemitérios particulares, mas tentamos praticar valores um pouco mais baixos”, disse.

Bicalho não soube dizer quanto à prefeitura gasta para compensar a baixa arrecadação dos cemitérios, nem precisar o tamanho do rombo no balanço da atividade funerária municipal. “Não tenho os dados. Quem os tem é a Fundação”, afirmou. Informado sobre a venda de jazigos mais baratos pelos cemitérios particulares, ele disse que os valores se referem a promoções e não correspondem aos preços normalmente praticados pelas empresas. As direções dos cemitérios privados contestam a informação e afirmam que cobram diferentes valores de acordo com a localização dos jazigos, e não por causa de liquidações.

A filha, então, pegou no braço do pai e disse:

- Pai, o senhor tem razão.

- Com essa grana, quero morrer em um cemitério de primeira linha. Com direito a cremação. E vamos embora, porque a sua mãe deve ter colocado feijão no fogo!

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