O JOGADOR DE FUTEBOL HIPOCONDRÍACO

Rousvaldo era um brilhante jogador de futebol de sua cidade interiorana. Os outros clubes tinham inveja por não tê-lo e faziam ofertas incríveis. Chuteiras novas, conjunto de camisas sociais, sapatos, tênis, até chegar ao prêmio máximo: uma casa. Uma casa velha e abandonada. Mas era uma casa. Rousvaldo não aceitara. Era fiel ao seu clube de coração e ao Cruzeiro, time mineiro de coração.

Era chamado de “Pelé de Piranga”, pois o verdadeiro estava no auge e tinha acabado de trazer o tricampeonato ao Brasil pela Copa do Mundo. Ah! E Rousvaldo não era bonito, mas o seu sucesso e suas habilidades com a bola conquistavam as mulheres. Todas queriam ir aos bailes de sábado à noite com aquele craque.

No seu último jogo, Rousvaldo machucou-se. Foi levado ao médico e teve que parar de jogar por alguns meses para tratar a lesão. Com remédios, pomadas e faixas. Ai, ele ficou fã das farmácias da cidade. Todo dia entrava na farmácia mancando e conversava com o dono horas e horas. E saia de lá sempre com vários remédios. Era remédio para dor de barriga, dor de cabeça, do estômago...

A sua obsessão foi ficando maior, quando qualquer dor o remetia a morte. Chegou a ir a farmácia duas vezes por dia e sempre estava no hospital olhando a pressão e fazendo exames. Piranga ficou pequeno para ele e foi à Belo Horizonte. Nossa! Quantas farmácias, quantos remédios! Descobriu a vitamina C, A, B e Z. Comprou o alfabeto inteiro!

Ficou uma semana em Belo Horizonte e seu pouco dinheiro acabara. Vendeu o que não tinha por exames de última geração nos bons hospitais da capital mineira. Queria saber porque sentia tantas dores no estômago. Era uma hemorragia e achava que poderia morrer a qualquer hora. Bom, não era nada! Era excesso de remédios.

Sem dinheiro, não teve como voltar para a sua cidade e passou a mendigar na cidade grande. Estava no fundo do poço. Foi definhando. Acabou o dinheiro para comprar tantos remédios e fazer exames. Ficava horas no posto de saúde, até que foi encontrado por uma linda jovem em um terreno baldio, dormindo sobre um papelão.

Era da sua terra e esta o levou de volta para Piranga. Apaixonaram-se, casaram e ele voltou a jogar. O amor tinha lhe curado da mania de doença e de tomar remédio. E em um domingo, no clássico jogo da cidade, Rousvaldo estava mais brilhante do que nunca. Fizera três gols. No quarto gol deu um pulo igual ao do Pelé e sentiu uma dor forte no peito. Caiu. Os amigos tentaram socorrê-lo, mas foi em vão. Morreu no meio do campo. Os médicos deram o laudo: enfarto. Um jogador inconformado saiu chorando, chutou a bola e murmurou com outro colega: “Eu dizia pra ele se cuidar melhor...Ir ao médico sempre. Ô cara teimoso!”

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