Cara Abusado!!
Precisava passar num famácia, num das entrequadras de Brasília. Para quem não conhece, o moderníssimo projeto urbano da capital previu uma média de três vagas por loja, normalmente acompanhada de sobreloja, primeiro andar e subsolo. Estes últimos, em muitos casos, compostos por duas ou mais salas. Ou seja, na melhor das hipóteses, uma vaga por imóvel. Se o proprietário/locatário de cada imóvel tiver um único automóvel, o estacionamento é suficiente. Desde que eles não recebam visitas ou clientes. Perfeito! Para quê lojas ou salas comerciais precisam receber visitas ou clientes?
Neste dia, contrariando toda a lógica, havia visitantes e clientes perambulando pelo comércio e, como em Brasília ninguém anda a pé, não havia uma vaga sequer no estacionamento. Por sorte, vi uma mulher encaminhando-se para um dos carros, encostei o meu logo atrás dela e liguei a seta. Ela levou uns três dias, quatorze horas, dezessete minutos e 53 segundos para conseguir engatar a ré e desocupar a "minha" vaga. E eu, ali, esperando.
Quando, finalmente ela saiu, antes que eu pudesse engatar a primeira, um carro veio da faixa central e, deslizou, vaselinado, para dentro. Eu não podia acreditar. A única imagem que me vinha à cabeça era a cena em que a senhora Couch, em Tomates Verdes Fritos, grita "Towaaaaaanda", enquanto joga seu carro violentamente contra o de uma outra mulher que fez a mesma coisa. Controlando-me, eu apenas buzino. Furiosamente, é verdade, mas apenas buzino. Felizmente, antes que eu engate a ré para dar a distância necessária ao impacto Towanda, ele levanta uma bandeira branca e sai da vaga, indo estacionar um pouquinho mais à frente.
Colhendo os louros da vitória, estaciono e desembarco rapidamente, quase ao mesmo tempo que o motorista do outro carro.
Justamente a tempo de reconhecer nele, ninguém menos que... meu chefe.
Imagina se ele não tivesse saído!