Com a Bunda de Fora
A madrugada luminosa e fria veio encontrá-lo vestido com a camisola azulada do hospital, o bumbum aparecendo pela abertura traseira, descalço, agarrado a um orelhão, chorando.
Horas antes, ele bebia na casa de amigos, comemorando o aniversário sabe-se lá de quem. Quando quis ir embora, fizeram de tudo para convencê-lo a deixar o carro e ir de táxi pra casa, mas ninguém estava suficientemente sóbrio para combater seus argumentos engrolados.
Assim, passados alguns instantes, transeuntes e outros motoristas o socorriam das ferragens do carro, destruído ao chocar-se contra a mureta do Buraco do Tatu, túnel que passa sob a rodoviária de Brasília.
Levado ao Hospital de Base, despiram-no e lhe vestiram com a tal camisola. Medicado, colocaram-no numa enfermaria ao lado de um outro acidentado. Ao recobrar a consciência, ele percebeu onde estava e, para seu horror, o homem ao seu lado havia acabado de falecer. Os médicos e enfermeiros cercaram o cadáver numa operação desesperada de ressuscitação, sem sucesso. Eles até tiveram o cuidado de proteger o triste espetáculo com uma cortina, mas não era possível abafar os sons dos diálogos aflitos.
Ele, assustado e ainda entorpecido pelo álcool e pela medicação, decide fugir. Procura em volta seus pertences e, não encontrando, levanta-se assim mesmo, livra-se do soro e sai de fininho, esgueirando-se pelos corredores da Emergência, desertos nesse horário. Ao alcançar a portaria, um segurança o vê e tenta impedi-lo de sair. Difícil acreditar que um bêbado franzino tivesse condições de escapar do brutamontes que o tentava segurar, mas ele conseguiu, lépido como uma jovem lebre, escapulir por entre os carros do estacionamento. Correu esbaforido pelas ruas, até alcançar a rodoviária. Lá, pode ver o guincho recolher seu carro, novinho, agora convertido em ferro-velho. Começou a chorar de gratidão por estar vivo, de medo, nervoso ou só depressão alcoólica mesmo. Caminhou até um orelhão, de onde ligou a cobrar para que o irmão viesse buscá-lo. Em seguida, abraçou-se ao orelhão para não cair.
As lágrimas corriam-lhe soltas pelo rosto. Da camisola aberta nas costas, era possível ver-lhe a bunda.
Foi assim que a madrugada o encontrou, ao chegar, luminosa e fria.
Horas antes, ele bebia na casa de amigos, comemorando o aniversário sabe-se lá de quem. Quando quis ir embora, fizeram de tudo para convencê-lo a deixar o carro e ir de táxi pra casa, mas ninguém estava suficientemente sóbrio para combater seus argumentos engrolados.
Assim, passados alguns instantes, transeuntes e outros motoristas o socorriam das ferragens do carro, destruído ao chocar-se contra a mureta do Buraco do Tatu, túnel que passa sob a rodoviária de Brasília.
Levado ao Hospital de Base, despiram-no e lhe vestiram com a tal camisola. Medicado, colocaram-no numa enfermaria ao lado de um outro acidentado. Ao recobrar a consciência, ele percebeu onde estava e, para seu horror, o homem ao seu lado havia acabado de falecer. Os médicos e enfermeiros cercaram o cadáver numa operação desesperada de ressuscitação, sem sucesso. Eles até tiveram o cuidado de proteger o triste espetáculo com uma cortina, mas não era possível abafar os sons dos diálogos aflitos.
Ele, assustado e ainda entorpecido pelo álcool e pela medicação, decide fugir. Procura em volta seus pertences e, não encontrando, levanta-se assim mesmo, livra-se do soro e sai de fininho, esgueirando-se pelos corredores da Emergência, desertos nesse horário. Ao alcançar a portaria, um segurança o vê e tenta impedi-lo de sair. Difícil acreditar que um bêbado franzino tivesse condições de escapar do brutamontes que o tentava segurar, mas ele conseguiu, lépido como uma jovem lebre, escapulir por entre os carros do estacionamento. Correu esbaforido pelas ruas, até alcançar a rodoviária. Lá, pode ver o guincho recolher seu carro, novinho, agora convertido em ferro-velho. Começou a chorar de gratidão por estar vivo, de medo, nervoso ou só depressão alcoólica mesmo. Caminhou até um orelhão, de onde ligou a cobrar para que o irmão viesse buscá-lo. Em seguida, abraçou-se ao orelhão para não cair.
As lágrimas corriam-lhe soltas pelo rosto. Da camisola aberta nas costas, era possível ver-lhe a bunda.
Foi assim que a madrugada o encontrou, ao chegar, luminosa e fria.