O carnaval da Bahia

      O carnaval da Bahia está chegando. 
      Friso o carnaval da Bahia porque ele é diferente. Nenhum outro carnaval iguala-se àquele que se brinca por aqui. Começa que são seis ou sete dias de folia. Entra-se na Quaresma, pulando atrás do trio elétrico!

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      O carnaval do Rio de Janeiro é apoteótico. Todo mundo sabe disso. Tem escolas de sambas pra todos os gostos e figurantes.
      Essas escolas, salvo suas coreografias, gloriosamente recheadas de bumbuns e seios exuberantes e fartos, tornam-se às vezes cansativas.  Algumas chegam a precisar de uma boa atração para conquistar, em definitivo, suas apaixonadas torcidas.

      Posso estar dizendo uma inominável asneira, mas culpo por isso os seus sambas-enredo, cuja linha melódica são quase sempre idênticas. E não diferem muito de um carnaval para o outro.

      Todos os anos é aquele ta-ra-tam-tam enfadonho.  A salvá-las têm as histórias que adotam como tema. Que, sem dúvida produzem ricas alegorias; o bastante para encher os olhos do mundo.

      E o povão? Vê o carnaval, mas dele não participa.
      Carlos Lacerda, na sua crônica O Rio já nasceu cidade, foi enfático: " Assistir ao carnaval  é uma forma de matá-lo por falta de participação."  Referia-se ao carnaval carioca. Mas sua observação vale para qualquer carnaval.

      Se um dia for ao sambódromo - passarela que devia se chamar Leonel Brizola, seu idealizador e construtor ; ou Oscar Niemayer, o seu arquiteto -, torcerei pelo Salgueiro. 

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      São Paulo, com um carnaval que pouco empolga, em muita coisa procura imitar o Rio. Também tem escolas de samba, sambas-enredo e o seu sambódromo.
      Falta, entretanto, ao carnaval de Sampa charme e as mulheres do tipo carioca.  Recente-se, também, da ausência de celebridades, que preferem a Sapucaí. 

      Por falar em celebridades folionas, ou folionas célebres, no próximo carnaval continuarei torcendo pelo sucesso  da Grazi Massaferro, como rainha da bateria da Grande Rio.
      Cansei das Lumas, das Galisteus, das Brunets, etc., etc. Ainda tolerarei ver na avenida a Juliana Paes, de irretocável e conquistadora silhueta...

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      No carnaval do Recife e Olinda, a gente só ouve o frevo. Vai e volta, e os nossos queridos maurícios aparecem na Guararapes e nas margens do Capiberibe e Beberibe dançando ao som de Vassourinhas  o "frevo representativo do carnaval pernambucano".

      Não que não goste do frevo. Até prefiro-o à chamada Axé-music, na sua versão carnavalesca, tão apreciada pelo esfuziante folião baiano e pelo pessoal do Sul que curte o carná da terra do Senhor do Bonfim.

      Há quem afirme, maldosamente, que o carnaval do Recife e Olinda é o carnaval de um ritmo só, o frevo. 
      Não conheço de perto a festança momesca da mauricéia. Mas creio, sinceramente, que além do frevo, marchinhas e sambinhas (que o Ary Barrosos não me ouça) também movimentam a folia, na bela cidade de Gilberto Freyre.

      Brincasse o carnaval no Recife, e faria tudo para sair no
Bacalhau do Batata.

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      O carnaval da Bahia é diferente. No meu entender, menos por causa de suas músicas mominas. 
      Destaca-se dos demais, principalmente pela plena liberalidade - às vezes excessiva liberdade - concedida aos foliões daqui e aos que vêm de longe.  Veste-se um abadá, e pode-se tudo.

      As músicas carnavalescas da Boa Terra, na sua maioria, são músicas pobres; músicas fabricadas; músicas improvisadas.
      Prova disso é que somente uma ou outra sobrevive aos carnavais. São esquecidas já na Quarta-feira de cinzas.

      Mas nem sempre foi assim.  Aconteceu depois que desapareceram os poetas e os autênticos  compositores  da música carnavalesca da Bahia. E com eles, as músicas que deixavam no folião baiano uma imorredoura saudade do carnaval que passou.

      Nossos trios elétricos perderam muito de sua originalidade. 
      Hoje, além de poluírem, com ensurdecedores decibéis, os chamados circuitos da folia - Campo Grande, Avenida Sete, Praça Castro Alves e o circuito Barra-Ondina - servem de palco para artistas, bons e ruins, que adoram aparecer. 
      Pouco importa se cantam a música carnavalesca de qualidade. O negócio é faturar. Dou um doce a quem, na Bahia, assobiar, pelo menos assobiar, a música que fez "sucesso" no carnaval de 2007.

      Mas alimento a esperança de que um dia a música carnavalesca ruim desapareça no carnaval da Boa Terra.

      Não foi por acaso que o belo compositor Moraes Moreira abandonou o carnaval de Salvador. O fez quando sentiu que, aqui, não mais havia lugar para as suas excelentes composições. 

      Seja lá como for, posso garantir que o Brasil nunca deixará de ser o país do carnaval.
      "Aqui não se vive sem os cinco efes: fé, FESTA, feijão, farinha e futebol", disse, certa ocasião, o arejado dominicano frei Beto.

      

       
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 10/01/2008
Reeditado em 12/02/2008
Código do texto: T810968