QUANDO AS DÁLIAS FLORESCEM
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para você, toda minha saudade.



 
Sempre que vejo uma dália florescida, lembro-me imediatamente de suas palavras, “que linda!”...
E se pudesse, ela certamente a levaria para dentro de casa e a poria num vaso. Nossa casa tinha um imenso jardim e variedades de flores. Eram dálias coloridas, rosas, hortênsias, begônias e uma infinidade de samambaias, orquídeas e trepadeiras espalhadas pelos troncos das árvores do quintal. Ela possuía mãos abençoadas. Todos diziam assim. Sempre que saía, ela voltava com uma muda nova de uma flor diferente e nosso jardim crescia sempre e vivia florido.
Ela era de uma docilidade típica dos anjos. Sempre tão solícita, tão espontânea, Era impossível não gostar de seu sorriso, de seus abraços, de sua amizade...
Acho que fez tantos amigos quanto às estrelas no céu. Nunca a ouvimos reclamar sobre qualquer coisa, mesmo, essas, sem importância, tudo era fácil de ser entendido por ela e aceito com dedicação. A vida era apenas um bom motivo para ser feliz e assim ela distribuía seu carinho com as pessoas de seu convívio.
Às vezes, eu sinto que cheguei abusar desse carinho... fazia todo tipo de pedidos e ela prontamente me atendia, cobrindo-me de mimos. Sempre estava ao meu lado, protegendo minhas peraltices de criança e atenta aos perigos... Um anjo que Allha, colocou em minha vida para cuidar dos meus passos, atendendo meus caprichos e florindo nossa casa com suas dálias coloridas.
Infelizmente a vida tem suas surpresas. Numa brincadeira tola, aconteceu o acidente. Um tombo. Que interrompeu toda essa emanação de carinho. Houve a queda, a dor e a conseqüência, foram quarto anos de tratamento com fisioterapia, injeções e tudo isso em vão. Na persistência dos sintomas e comprometimento motor, foi decidido depois de muitos exames, que a cirurgia era o mais indicado para a descompressão do nervo ciático...
E pela primeira vez, vimos o medo em seus olhos e uma negativa em suas palavras. Mas a cirurgia era inevitável; aconteceu no final de junho de 81. Coincidentemente, era nosso aniversário no mês seguinte. Ela no dia quatro, eu no dia seis e como sempre, comemorava-mos com uma festa. Juntas, cúmplices na alegria dos presentes, nos amigos, nos sorrisos e no sopro das velas...
Mas em 1981, pela primeira vez não houve festa, ela estava no hospital. Não houve bolos, presentes, sorrisos aos amigos levaram seu abraço e seu sorriso até seu leito, onde ela sorria sempre... A festa foi adiada, seriam acesas as velas sobre o bolo sim... Mas essas velas que foram acesas no dia 11 de julho de 1981, eram velas tristes... Chorando um pranto silencioso, escorrendo em suas lágrimas de cera quente a dor...
Houve flores, muitas, muitas flores coloridas e coroadas de silêncio e pesar. Todos os abraços que recebi, foram de tristeza e todos os olhos em que olhei, viram apenas tristeza e dor banhada em lágrimas.
O silêncio de meus pais era pesado, ausente, morno... Triste foi o beijo que deram em seu rosto frio...um beijo de adeus separando-os do convívio com ela nesta existência física. Aquele beijo foi à coisa mais triste que já vi e senti; meus pais perderam uma filha, isso contraria a lei natural da vida... E eu, eu perdi minha irmã, minha única irmã. O meu anjo doce de candura. Doce como seu nome Dulce... doce...dolce...dolce Dulce, adeus.


para minha irmã Dulce Maria, onde quer que ela esteja 
Luciah Lopez
Enviado por Luciah Lopez em 07/01/2008
Reeditado em 27/01/2021
Código do texto: T806849
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