Baita cachorro
Há treze anos eu comprei o Hulk. Ele tinha quatro meses. Fui buscá-lo em São José do Rio Preto. Um lindo filhote de Rottweiler de olhar curioso. Gordo e pesado veio no colo do meu sobrinho. Não fazia nem meia hora que pegamos a estrada, e o Hulk vomitou. Sujou o banco, o sobrinho, o tênis do sobrinho, uma lambança que só vendo.
O tempo foi passando e o Hulk crescendo, às vezes, eu pensava que deveria ter comprado um cavalo. Mas os cavalos precisam de hectares, eu tenho metros quadrados. Fiz a escolha certa.
Aos três anos de idade, o Hulk era forte, imponente, amigo e protetor. Poderia descrever muitas outras qualidades porque o Rottweiler é um baita cachorro. Passeávamos diariamente nas ruas do distrito industrial. Eu escolhia horários estratégicos, pois o Hulk queria brigar com todos os cães que cruzassem o nosso caminho. À noite era ideal porque tínhamos menos encontros furtivos.
Eu o deixava solto por um tempo para explorar o território com seu desenvolvido olfato. Ele sempre encontrava bicho morto. Era uma carniça horrível. Não tinha solução, quando chegávamos em casa: banho!
O Hulk sempre foi saudável, ficou doente pouquíssimas vezes e se recuperava rápido. Eu sempre o vi como uma fortaleza indestrutível. Salvo engano, porque no último mês ele sucumbiu. O câncer atropelou o meu amigo. Foi perdendo as forças até ficar paraplégico.
Nunca imaginei que o Hulk ficaria aleijado. Sentimento de impotência nos tortura nesses momentos. Tenho saudades dos passeios, das confusões com outros cães, da mordida na minha coxa e do dia que ele vomitou sem parar porque comeu feijão do lixo. Ah! Hulk, quanta falta isso tudo me faz.
Vê-lo todo caquético é muito triste, contudo estou ciente que sua jornada está acabando. O doença vai levá-lo, mas as lembranças permanecerão no meu coração.
Amigo, estou com você até o último suspiro!