O tempo que me dei

Sabe, eu limpei o meu quarto e achei alguns velhos diários. O mais antigo é de apenas 5 anos, porque os outros que eu tinha, acabei perdendo com o tempo. Mas, enfim, eu achei interessante ter aquele velho caderno em minhas mãos, com pensamentos que são antigos, mas também tão presentes, que evocaram algo que eu já vivi. Quando eu li algumas daquelas páginas, eu fiquei tentando me lembrar do momento exato em que os escrevi. Porque parecia que grande parte dos meus antigos registros pessoais foram feitos em momentos difíceis ou solitários da minha vida e a escrita deles era uma forma de me ajudar a superar.

Ainda hoje eu faço isso, escrever como uma forma de expurgar o que tanto me aflige. Acho que eu tento sofrer tudo o que tenho que sofrer, até a última gotinha da angústia, para ter absoluta certeza que eu tentei entender e lidar com a situação de todas as maneiras possíveis. Eu sei, parece que eu gosto de sofrer, mas eu tenho que lidar com tantas coisas, que eu meio que me acostumei a ser amiga das minhas angústias. A gente toma chá juntas, às vezes.

Porém, nem tudo é ruim, acho que foi assim que descobri o poder que a palavra tem e aceitei a minha grande paixão. Nós costumamos crescer muito quando não estamos nos nossos melhores dias. Então, sei como eu sou, encarando tudo mergulhando de cabeça me fez ser exatamente quem eu sou hoje. E todas as mudanças que me acompanham, acho que a mais importante é a que tomei recentemente.

Eu me dei um tempo. Um tempo sem precisar entender cada coisa que acontecia ao meu redor. Um tempo sem me colocar no papel de vítima de tudo que acontecia comigo, que parecia tão injusto. Um tempo sem me envolver de verdade com ninguém ou reviver algo que não existe mais, com pessoas que eu amei muito no passado, mas que agora só me fazem mal. Um tempo sem me importar com o que as pessoas achavam que eu deveria fazer ou ser. Um tempo sem paranoia do meu peso, com o volume do meu cabelo ou com as roupas que eu escolhia vestir.

Sabe, é como se eu tivesse tirado um retiro de mim mesma e de todas as convenções que eu criei para ser feliz. É como se eu estivesse pintando o meu livro de colorir da vida da mesma cor. Sempre. Toda vez. Aí eu cansei da cor e vi que eu poderia colocar todas as outras cores que quisesse. E foi o que decidi fazer. E desde que escolhi seguir uma estrada diferente, o tempo tem passado de um jeito diferente. Acho que eu finalmente comecei a entender que ele está do meu lado. Porque nem tudo que queremos é o que precisamos. E tudo aquilo que eu precisava, eu já tinha, dentro de mim.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 07/05/2024
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