SOBRE SOBREVIVER...

Às vezes "choro" cortando cebolas, mas aí danço “ I will survive” de Gloria Gaynor...

Sobrevivo. Das músicas que amo, das rosas no jarro antigo, ou daquelas xícaras de passarinhos que me remetem a infância e ludibriam-me a rotina.

Às vezes quebro as unhas, quando baixa em mim a faina da limpeza de todas as mulheres da família, às quais, inconscientemente, ainda carrego. Mas aí, danço “ Comment te dire adieu” de Francois Hardy e sinto-me rodopiando com um vestido de organza florido nas escadarias de Paris.

Amasso o alho e queimo o feijão, mas aí ouço Carla Bruni. Falo ao telefone, cobro uma resposta, faço um pix, abro as janelas, rodopio pela cozinha, afogo o arroz, afogo a tristeza...liberté, liberté, liberté...

Os clichês da vida real só os vivos mantendo a beleza intrínseca dos sonhos. Ah, como você é fresca! Sou fresca do belo. Da estética calma do vento na cortina, das velas tremeluzentes na janela. Das flores na contraluz de um quadro, de um reflexo inesperado nos espelhos...

Preciso da beleza. Ela me resguarda do cotidiano fatídico, da rudeza do destino.

Então, invento uma vida, decoro um canto, planto uma flor, invento realidades mais bonitas, encho de beijos a minha cachorra, conto histórias a ela, sinto-a parte intrínseca da minha história.

Escrevo, pouco agora, pois um ruído da realidade me assola todos os dias, mas sorvo a vida com sofreguidão, engulo-a com livros e música, com arte, sonhos e esperança.

Os sonhos nos ajudam a sobreviver, mas a realidade nos dá o sentido da existência, que é dura, mas é bela, pois podemos " vesti-la com encantamento e leveza.

Angela Gasparetto
Enviado por Angela Gasparetto em 05/05/2024
Reeditado em 05/05/2024
Código do texto: T8057033
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.