A literatura se alimenta de sonhos

 

Hoje, primeiro de maio, comemoramos o Dia da Literatura Brasileira. E por que no dia de hoje? Porque é o dia de nascimento de um de nossos grandes romancistas, a saber, do autor de Iracema, Cinco Minutos, Senhora e Lucíola, não necessariamente nessa ordem, para citar aqui apenas quatro de seus livros. José Martiniano de Alencar, advogado  – como lemos em sua biografia –, nasceu no dia 1.º de maio de 1829, na cidade de Fortaleza, capital do Ceará. Escritor prolífico e nosso representante maior do romantismo, foi também jornalista e político, dentre outras profissões e ofícios.

 

Feliz e muito bem justificada, portanto, a escolha do dia de homenagem à nossa literatura. Não se pode negar isso. Pena que, nesta terra em que se lê menos e mal a cada dia, a efeméride passe quase totalmente despercebida pela grande maioria dos brasileiros. Muitos não se lembram dela e, penso, muitos mais ainda não sabem sequer que ela existe. Merece que se repita: Que pena! Resta, assim, à academia, nos cursos de Letras, e às escolas de ensino fundamental e de ensino médio o dever da lembrança e da comemoração.

 

Penso, contudo, que, mais do que um dever, comemorar o Dia da Literatura Brasileira é um direito, e direito é para ser usufruído, ser gozado, por quem a ele faz jus. E aqui – com “direito” e “faz jus” – faço propositadamente um jogo de palavras. Fazer jus é ter direito. Ter direito é fazer jus. Cumpramos, pois, nosso dever e, mais do que isso, exerçamos o nosso direito de comemorar o Dia da Literatura Brasileira. Por quê? Por causa do que a literatura nos proporciona no dia a dia, tenha-se ou não consciência disso.

 

A literatura, penso, alimenta-se de sonhos e alimenta os sonhos como um instrumento de lutas. Poderia, claro, trazer vários argumentos para sustentar essa afirmação. O espaço e o tempo, todavia, são exíguos numa crônica de canto de página, espécie literária que acho bonita, admiro e me esforço por praticar. Não faz mal nem causará prejuízo, pois, abreviando o caminho, lançarei mão de duas citações, apelando, assim, para o argumento da autoridade, bem ao gosto e ao costume da seara jurídica, mas também da academia (para os desatentos, da universidade).    

 

“A literatura não se alimenta de palavras, mas de sonhos. Às vezes, a gente faz romances com aquilo que contamos para os amigos”, diz Dany Laferrière, escritor haitiano exilado no Canadá, em belíssima entrevista concedida à edição 14 (novembro de 2012) da hoje extinta revista literária Metáfora. Falei disso ligeiramente na minha crônica “A leitora e as minhas insignificâncias literárias”, publicada em meus blogues em 22 de dezembro de 2012 e também no jornal marabaense Correio do Tocantins. Bravo, Dany Laferrière! Bravo!

 

Concluo. E o faço com o autor de Seria uma noite sombria e Minha alma é irmã de Deus, Raimundo Carrero. Diz esse jornalista e escritor pernambucano à edição 225 (janeiro de 2019) do jornal literário Rascunho: "Ninguém tem dúvidas de que a literatura — no sentido mais abrangente possível — é um elemento de luta político-social, sobretudo quando o país se encontra num momento difícil, envolvido com censuras e injustiças sociais.” E arremata solenemente o parágrafo: “O escritor deve estar sempre combatendo, ou em posição de combate, pronto para a luta." Eu também penso assim.