A INVEJA

A INVEJA.

A inveja é um sentimento menor, um veneno letal do corpo e da alma, que destrói antes o invejoso e robustece o invejado. Consiste num corrosivo poderoso e inexorável que fulmina o vaso onde encontra-se guardado. O infeliz que se deixa contaminar por essa chaga cruel desconhece o que seja felicidade: nele não há liberdade, não lhe predomina a paz, apavora-se com a luz e se ofusca pelo brilho e sucesso alheios; por isso sofre e vive condenado à escuridão.

Esbraveja com a vida, se cerca de resmungos e mau humor, se derrete, como uma vela podre que não pode incender, sem que saiba o que é dar um sorriso, se alegrar, pleno, em puro contentamento e gratidão, por se poder desfrutar a maravilha de viver um novo dia.

Não raro, tem na amargura, sua companheira predileta do cotidiano turbulento e espesso em que vive, imerso em seus oceanos de rancores, perdido nos turbilhões da maldade, vazio porque seu espírito malsão permite-se habitar pelas conquistas de outras vidas, que não a sua ínfima, írrita, medíocre, vã.

O invejoso vive na mentira e é por ela alimentado e enganado apenas para disfarçar sua própria e imanente pequenez – daí porque geralmente é possuidor de língua viperina, afeito a boatos e fuxicos – um ser desconcertado, imerso nas mais abissais e terríveis profundezas da alma. Se há um inferno, nele vive o invejoso. A alma humana é um espelho, na lição Socrática.

De igual, é sorrateiro e silencioso, podre das podridões da covardia e das armadilhas, rei das insídias, princípe das patranhas, sinuoso como a serpente. Emula a calúnia, estimula a difamação, promove a injúria – tudo perpetrado, de modo adrede, contra quem assim é somente seu oposto, por razão e essência da Natureza, diferente de seu modo de ser; sibila contra quem vive na luz, e possui brilho e esplendor.

Verbera e vitupera assacações e aleivosias àqueles que conseguem percorrer seus caminhos amparados na sublime e infinita graça de Deus – que proporciona, com abundância, aos seus filhosa força para vencer as tempestades, intempéries e dificuldades e injustiças encontradas na existência. Atravessar desertos, não sucumbir a vendavais, renascer e dar a volta por cima – nenhum desses férteis atributos e dons divinais é da sabença e posse dos invejosos. Como ensinou Ovídio, “não me perguntem o resultado de minhas lutas: eu não fui vencido por elas”.

Eles também são por imperativo de suas pequenezas, escorados na covardia e idolatram o anonimato, refúgio dos biltres, sicofantas, patifes e todos os outros que tais, componentes dessa choldra. Se vivem em seu mundinho desorientado, não podem saber o que seja caráter, força de vontade, personalidade e altivez para fitar outros olhos à mesma altura, com serena sobranceria, sempre – sem medos, subserviências, meneios ou omissões.

A vida é feita para e pelos que possuem o discernimento do que seja coragem. Com respeito, fé e destemor, o homem desceu das árvores, aprendeu a se comunicar, atravessou rios, escalou montanhas, transpôs, intrépido, os mares da Terra. Por ser indômito, foi ao espaço sideral, com seus foguetes, assim como desvendará, a tempos celestinos, pela evolução da sua Ciência e Filosofia, os véus que escondem os segredos da vida e da morte – tal como as conhecemos pelos limites do atual.

Essa borra humana costuma se misturar aos aglomerados das gentes, nas praças, feiras e avenidas e assim, ocultos pelos seus diminutivos, cicia todo o seu pejo, petarda àqueles que a ele se contrapõem, vencedores, e por essa razão conquistam e alcançam destaque, mercê de talento, labor e dedicação ao que fazem, por paixão, amor, honestidade e vocação – todas abençoadas pelos Divinos Mistérios.

Nos tempos hodiernos procuram refúgio nos meios cibernéticos, ratos que são, mas esbarram na parafernália dos competentes expertos em Informática das Polícias Federal e Civil. Identificados e chamados aos ditames da Lei, pelo Poder Judiciário, pagam com pedidos de desculpas e tartamudeios, proferidos cabisbaixos na presença solene de juízes, promotores, advogados e oficiais de justiça e pelo mesmo meio que divulgou e promoveu a ofensa, à suas expensas, ou de forma conjunta. Nunca custoso lembrar que a Constituição Federal veda o anonimato e quem desse princípio se afasta, se sujeita aos rigores cíveis e penais decorrentes. Assim caminha a Humanidade, como viga mestra da Civilidade.

Pagam também com prestação de serviços comunitários nos lugares indicados pelos ofendidos com seus ataques vis. Se reiterarem na sórdida conduta, vão aos porões do esquecimento, de onde somente os fortes voltam, vencedores e fortalecidos, expostos ao brilho incandescente da luz. Sofrem, sobretudo, porque despendem gordas indenizações em dinheiro em favor de quem sua língua ferina atacou, e seu bolso geme de dor quando expelem os tostões acumulados ao sacrifício de sua mísera vida, se é que assim exista.

A inveja, além de ser um dos sete pecados capitais, para quem neles acredita, é também uma dejeção do caráter, ou da falta de caráter, até porque nem costuma ser associada à ideia de personalidade. O anonimato, outrora arma predileta dessa ralé, que antes era protegido pelos esconderijos, agora é vasculhado mediante simples investigação policial eletrônica, de maneira que aumentam a cada dia os processos judiciais, cíveis e criminais, contra difamadores, caluniadores e injuriadores de plantão, a soldo de terceiros, algumas vezes; outras mais, apenas porque não sabem conviver com seus ínfimos instintos, reles mesmo, sentimentos.

A inveja não somente maltrata: mata, corroi, como dito, o pote onde está guardada. Não sejamos bastões do mundo. Devamos, sim, antes, buscar e praticar a tolerância e conviver nos limites da civilidade. Perdoar esses irmãos ainda imersos nos umbrais densos e enevoados de suas almas tenebrosas, é dever cristão de cada um de nós. Quem não tiver pecados, atire a primeira pedra. A grandiosidade discute ideias, a inferioridade fala de pessoas, como ensinou Sócrates, invocamos novamente – que sacrificou a vida para preservar a virtude e fecundar suas convicções indeléveis.

Foram os invejosos que levaram o Cristo à Cruz; foi a inveja, irmã da vaidade, filha da soberba, quem levou Saulo de Tarso ao apedrejamento de Estevão e à morte de centenas e centenas de Cristãos primevos. Portanto, peçamos a Deus inspiração sempre que nos sebrevenham, sorrateiros, à mente, pensamentos e palavras adversos ao próximo. O dia de amanhã a Deus pertence e um desses atiradores de pedras poderá ser alvo. A Justiça Divina jamais erra; “muitos males se abatem sobre os justos, mas o Senhor de todos eles os liberta”, no dizer sábio do Salmo 33. É isso que conforta, ampara, protege, provê e sustenta e aumenta! Deus seja louvado!

Avante porque somente DEUS é grande!

Amaro Pinto.