Reflexões de um pessimista

Estou cansado. 

Queria poder escrever sobre coisas e emoções bonitas. Mas hoje não consigo. Estou exausto.

O ambiente familiar, o trabalho, enfim, a vida como um todo leva-me as forças. As vezes sinto andar em círculos. As vezes me sinto num labirinto. Meu estoque emocional para bons pensamentos e emoções positivas está no fim.

As vezes sinto que não realizarei meus sonhos. Que o melhor que posso fazer é viver a busca por algo que não posso ter. É um sentimento terrível sentir que não nasci para a felicidade. 

O médico olhou-me e satisfeito elogiou minha melhora. Estou perdendo peso e quase não recorro a remédios calmantes. Disse que vamos começar o desmame de um deles. 

Curiosamente ouço isso quando sinto-me no pior estado de espírito que jamais tive.

Mas estou emagrecendo. Isso é uma boa coisa para quem teve um coma diabético. 

Mas estou cansado. Cansado de não ter com quem conversar. Cansado de não ter quem abraçar nos momentos de fragilidade emocional como esse. Cansado de me sentir frágil. Cansado de sentir-me despedaçado como alguém que vive as margens de si mesmo. Como se nem eu fosse suficiente pra mim. 

Estou realmente no limite das minhas forças. 

As vezes as pessoas comentam comigo sobre coisas que as deixam felizes. Um carro com a manutenção em dia, a pintura da casa onde mora, encontrar um emprego, iniciar um relacionamento, terminar um relacionamento, fazer um churrasco... são várias coisas que trazem alegrias para as pessoas. Eu sempre as ouço falar dessas coisas.

É natural que as experiências das outras pessoas nos façam pensar a nossa própria realidade. Como pode uma roupa nova mudar para melhor o dia de alguém? Uma mudança no penteado, na barba, maquiagem e pronto! Outro ânimo. 

Porque essas pequenas coisas não surtem o mesmo efeito em mim? Onde está a beleza na minha vida? O belo é abstrato? Talvez palpável? Uma pessoa, um objeto? São várias perguntas que me faço. 

Devia existir um remédio que cure tudo! A gente acorda pela manhã e é feliz! E nada mais vai importar.

Só que importa.

Sempre parecemos buscar algo. Quando o obtemos ele imediatamente perde o valor e partirmos para a próxima conquista.

Vejo isso com as pessoas que usam Tinder. Todos dispensam a pessoa que estão saindo porque acham que a próxima será melhor que a anterior ou atual. Talvez eles não saibam o que querem de verdade e continuam buscando.

Quem sou eu para criticar?

Outros acham que trocar o carro, um móvel ou o celular é alcançar a alegria na vida, ainda que momentânea. Eu sei que devemos comemorar as conquistas. Só estou cansado de sentir que não chego a lugar algum

A vida segue, os dias passam. Preciso começar a terapia. Preciso fazer novos amigos, preciso afastar-me das pessoas que me fazem mal, dos hábitos destrutivos... tanta coisa a fazer e nenhum ânimo. Me pergunto se esses coachings de vida são realmente felizes ou fazem dessa busca incessante pela felicidade o objeto de um mercado lucrativo. O que é a felicidade e quem é realmente feliz?

John Raskólnikov
Enviado por John Raskólnikov em 27/04/2024
Reeditado em 27/04/2024
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