Saudades de lá

Eu já falei outrora as “saudades de lá”.

 

Aqui falei do cheiro de relva. Daquele cheiro de terra molhada ou tombada.

 

Falei da chuva torrencial com muito vento que sacudia tudo, as árvores e até os telhados das velhas casas.

 

Daquele frio intenso e com garoinha que fez naquele dia em que te deixei.

 

Daquela praça do relógio que é o ponto de encontro e de desencontro. Daquele velho jardim com suas seringueiras enormes e com suas fontes coloridas e iluminadas aos sábados e domingos.

 

Da minha rua, que outrora era de chão batido e agora toda asfaltada e do meu pequeno bairro.

 

Do meu velho grupo escolar e dos primeiros professores, e dos primeiros colegas da infância querida que os anos não trazem jamais.

 

Do curso ginasial, do colegial, dos bons e queridos mestres (Professora Didi, Professora Clarice) e dos muitos colegas do período da adolescência.

 

Do antigo cinema, Cine Luz, fundado pela colônia japonesa, o único da cidade que um dia fechou e não abriu mais.

 

Das matines aos domingos a tarde. Dos filmes de Tarzan, Zorro, Bonanza, Sansão e Dalila e o "Vento Levou". Das sessões de sábado e domingo à noite, logo após a missa.

 

Da velha igreja e agora da nova Paróquia Nossa Senhora das Graças. Sim, e daquele dia de domingo de catequese e da minha primeira comunhão e mais tarde a crisma e o matrimônio.

 

Da velha rodoviária que sua construção me lembrava um castelo. Coisa de criança! Das antigas jardineiras e dos ônibus novos que foram chegando na rodoviária.

 

Da estação de trem. Sim, daquele trem das 11:20 que me traria pra Cidade Grande naquele ano de oitenta. Da colônia dos ferroviários no alto do morro.

 

Do velho pé de manga. Da roça de amendoim. Da velha paineira. "O ser humano é uma pessoa linda e se todos soubessem disso o mundo seria maravilhoso de se viver". Das velhas histórias contadas no fim do dia.

 

Dos tempos de infância. Das brincadeiras infantis até tarde da noite. Do futebol e das pescarias. E o medo de nadar! Nem sonhava conhecer o mar.

 

Dos tempos da juventude vividos lá. Tempos difíceis! Dos forros e o som da sanfona. Dos bailes e das brincadeiras dançantes no Kaikan e no PTC.

 

Foram tantas e tantas coisas mas, Eu tive que sair de lá. Era necessário. Não tinha outro jeito.

 

Eu deixei tudo aquilo pra viver aqui.

 

Eu não imaginava a dor da saudade que um dia eu iria sentir de lá...

 

 

Benedito José Rodrigues
Enviado por Benedito José Rodrigues em 25/04/2024
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