NOSSAS INUTILIDADES

Talvez pela moleza da situação atual, quando ninguém mais sai para caçar ou pescar com arco e flecha, quando os alimentos em geral estão nas prateleiras abarrotadas dos supermercados e as informações não precisam mais serem pesquisadas nas bibliotecas, porque todas elas estão ao alcance de todos dependendo apenas de um simples toque na tela do celular, a criatividade humana teve que arranjar alternativas para driblar o tédio das existências vazias de conteúdo e sem perspectivas ou planos para preencher as horas de total inutilidade.

Durante a pandemia do xingling vírus, os podcast foram alternativas de diversão, adquiriram importância na comunicação dirigida e no rescaldo da catástrofe se disseminaram por exercerem a magia de remunerar a conversa fiada que representa a maioria deles.

(Monetização é o nome politicamente correto para o dinheiro que se recebe por cada publicação. Daí a insistente solicitação – curte, comenta e compartilha - que faz parte integrante e inseparável de todos eles)

Os arautos do apocalipse, do esclarecimento das profecias bíblicas e de Nostradamus, de Nibiru, da guerra atômica, dos bunkers, da escassez de alimentos e água potável ganharam uma plataforma de alcance nunca d’antes imaginado.

Da mesma forma os dos falaciosos avistamentos de pés grandes, homens das neves, gigantescos macacos e monstros aquáticos, hominídeos canibais, ferozes e de olhos vermelhos, reptilianos, óvnis, ETs, abduções, geoglifos, pegadas e demais marcas em plantações ou desertos, especialistas nas interpretações de escrituras antigas, religiões, planos espirituais, seres egressos de Capela e retirantes para Quirom., os arcturianos vivendo entre nós, os habitantes do lado escuro da Lua, mapas e interferências da astrologia, da numerologia, interpretações de runas, arte rupestre, ritos, lendas, mitos, viajantes do tempo... etc.

O diacho é que para os avistamentos não há nenhum registro sem imagem desfocada, sem névoa ou qualquer coisa que seja confiável e resistente à prova de falsificação, não existem sobreviventes das culturas extintas para validar as afirmações ou algo confiável que lhes dê suporte e a verdade fica na dependência da confiabilidade do depoente semelhante ao crédito que se dava aos muambeiros de artigos paraguaios de outros tempos quando diziam: “la garantia soy yo”.

Desde o final da primeira metade do século passado que os países mandam lá para fora e permanecem em órbita da Terra, inúmeros artefatos ativos, desativados ou partes dos veículos lançadores, muitos deles propositalmente estacionários ou mantidos lá pela força da gravitação universal e esses objetos, metálicos em sua maioria, refletem os raios solares ou de quaisquer outras estrelas dos confins do universo, que diga-se de passagem, obedecem às mesmas leis da física que foram definidas por Sir Isaac Newton.

E que fique bem claro que a física das micropartículas, a da relatividade, ainda é matematicamente viável, mas nem sempre confirmada em experimentos.

É ponto pacífico que existem nas inúmeras galáxias, corpos celestes com as mesmas características da nossa Terra e outros em que, mesmo sem atmosfera, há oceanos de água líquida e com vulcões submersos onde, provavelmente, existem as mesmas chaminés que proporcionaram o surgimento da vida por aqui.

O fato desalentador é que todos esses ambientes estão a muitos anos luz de distância da Terra e que, salvo se existe algo capaz de se mover em velocidade superior a N vezes à velocidade da luz, talvez eles, os ETs consigam chegar até aqui, mas como os veículos que são descritos nos “avistamentos” são tridimensionais, tal e qual são os nossos objetos, fica difícil imaginar como eles não se desintegram nessa “paideguíssima” super velocidade de deslocamento.

Mas, para ocupar o tempo, não estragar o papo agradável e por falta de algo de real utilidade, melhor fazer de conta que acreditamos e fingir que aceitamos como válidos os argumentos desencontrados e ilógicos que permeiam os depoimentos.

- Era assim. Um disco preto com luzes azuis...

- Parecia um charuto emitindo uma luz vermelha no chão...

- Eram três naves pequenas se movimentando em torno de outra bem grande, luminosa, prateada...

- Quando cheguei perto, ouvi uma carreira por dentro do mato, pouco depois, subiu uma coisa grande de detrás das árvores, com o zunido parecido com o do aspirador de pó...

- Era um objeto grande como ônibus. Estava planando sobre o riacho e sugava a água, assim como um tornado, e as folhas dos matos todas se movendo por conta do vento que eles faziam...

- A criatura devia ter um metro e pouco de altura, com a cabeça comprida, a mão com três dedos e a pele verde como a de um calango. Quando me viu largou as folhas e correu para dentro de uma de cesta que foi sugada por um disco grande com uma porta na parte de baixo que estava flutuando acima das árvores e que eu nem tinha reparado por causa do susto...

- Depois de paralisado fui levado para uma sala muito iluminada com pessoas bem altas, magras, com cara reptiliana e mãos com quatro dedos. Colheram amostras do meu sangue, de esperma e pedaços da pele do braço, mas os ferimentos cicatrizaram imediatamente. Repare, foi bem aqui, mas nem dá para ver. Eles se comunicavam com zumbidos e silvos como os de equipamento eletrônico...

- Eu vinha dirigindo pela BR, já estava perto de casa, quando de repente, o carro parou, como se eu tivesse pisado no freio de vez. As luzes do painel se apagaram, a bateria não dava sinal de vida. Aí uma luz bem forte me envolveu e eu não vi mais nada, acordei três dias depois, na beira da estrada a mais de cem quilômetros de casa...