Crônica de um jornalista

Ele chegou atrasado ao compromisso no restaurante caro. Seus amigos, colegas de profissão, acenaram com satisfação quando o avistaram, puxando uma cadeira para se sentar. Começaram a conversar sobre coisas triviais. E, paralelo à sucessão de comes e bebes, ele só conseguia pensar sobre o mal estar que começou a sentir quando passou a replicar a seguinte diretriz ordenada pelos seus superiores, de outras com os quais também não concordava (todas relacionadas com manipulação de informação).

"Nada de usar termos como 'Palestina' e muito menos 'povo palestino'. Use sempre o termo "Hamas"

Mas, então, ele viu a situação em que se encontrava, sua vida confortável, seu bom salário, seu prestígio social, e se forçou a esquecer daquele detalhe que, pra ele, deveria ser apenas um detalhe técnico e sem importância.

Enquanto isso, milhares de crianças, mulheres e homens inocentes continuaram a ser massacrados naquelas terras distantes. Assim como milhares de vidas de outras espécies, como sempre, infelizmente. Os que continuam a existir por lá, passam fome e mendigam atenção, mas a mídia é comprada, porque muitos daqueles que se pensam como paladinos da verdade e dos fatos são mercenários em busca de fama e dinheiro, sem liberdade, mas também vontade para serem aquilo que dizem ser, com orgulho, jornalistas.