NOITES MAL DORMIDAS

Filhos queridos vocês não têm nenhuma lembrança dos seus primeiros meses de vida, dos nossos pressurosos cuidados com seu bem estar em todos os momentos. Para, nós, no entanto, é tudo inesquecível, detalhe por detalhe. Quando vocês choravam com fome, por causa da fralda molhada ou suja, devido às cólicas, um desconforto repentino, fosse qualquer um o motivo lá ia sua mãe correndo toda amorosa para dar de mamar, por nos braços para acalentar, apanhar o sol matutino, mimar, ensinar os primeiros gestos e as primeiras palavvras. Não, vocês jamais haverão de lembrar porque essas coisas se apagam no tempo.

Eu e ela certamente nunca esqueceremos das noites mal dormidas principalmente as dela, visto que a necessidade de vocês de mamar de três em três horas exigia a plenitude dela a qualquer hora do dia ou da noite. Sua mãe não reclamava por isso nem por nenhuma outra razão, ela amava cuidar dos filhos com denodo e muito amor. Por vezes, penalizado por causa do esforço diuturno dela ao longo dos dias antes o trabalho normal causado por recém-nascido, eu pulava da cama antes dela ao menor choramingar de cada um de vocês, dizia para ela continuar dormindo e levantava para trocar a fralda ou acalentar. E só voltava para o aconchego do leito quando vocês dormiam. Certa vez na madrugada, despertando com o choro do mais novo de vocês, preocupado, desembestei da cama sem pensar e bati a testa na quina da porta do quarto. Um galo dolorido formou-se na cabeça, mas as dores não me impediram de ir ao encontro dele para oferecer os cuidados que ele precisava. Também lembro da vez em que brincando com ele, o caçula, topei na ponta da cama com o delicado osso do pé e senti dores cruciantes.

Foram tantos os tropeços, as correrias, as horas insones, as idas repentinas ao pronto-socorro nas madrugadas, o tudo, o sempre vocês, o esquecer de nós mesmos, mas vocês não se recordam, nada disso está na sua memória. Hoje, eu e sua mãe envelhecidos, vocês não lembram nem que existimos, não telefonam, nunca visitam, raramente tomam a benção. Nossos bebês amadureceram.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 21/04/2024
Reeditado em 21/04/2024
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