FEMINICIDIO FICCIONAL

Francisco de Paula Melo Aguiar

Em lendo "Menino de Engenho", obra considerada classifica da literatura brasileira que conta com nostalgia, ficção e realidade, o viver no Engenho Corredor, por analogia a qualquer outro engenho nordestino, nas primeiras décadas do século XX na várzea do Paraiba e ou não.

Às práticas latifundiárias e aristocráticas, eram e ainda são na atualidade, com raras exceções.

A nostalgia faz o romancista contar a grandeza familiar dele, a classe dominante e a desgraça de quem nada fosse da clã familiar de Carlos de Melo, uma espécie de autobiografia familiar.

E o romance Menino de Engenho, tem início

justamente com a tragédia familiar, portanto, algo muito atual em qualquer parte do mundo, do Brasil e no Nordeste, não é diferente na zona urbana ou rural canavieira ou não, isto é um fato social, portanto, José Lins do Rego Cavalcanti, continua atualizado a nos informar do "femicidio ficcional" que:

“Eu tinha uns quatro anos no dia em que minha mãe morreu. Dormia no meu quarto, quando pela manhã me acordei com um enorme barulho na casa toda. Eram gritos e gente correndo para todos os cantos. O quarto de dormir de meu pai estava cheio de pessoas que eu não conhecia. Corri para lá, e vi minha mãe estendida no chão e meu pai caído em cima dela como um louco".

Este imaginário do declarante, por dedução, parece atual, porém com outro vernáculo nos depoimentos constantes dos termos de declarações de menores existenciais nas cenas de crimes de femicidios reais e não apenas ficcionais.

Assim sendo, ficção literária ou não do nosso Zé Lins, o fato por ele contado à luz da legislação brasileira de nossos dias, representa um feminicidio, tendo em vista que envolve seu pai e sua mãe, ambos in memoriam.

Assim sendo, não existe endereço certo ou de ficção para a prática do crime de feminicidio. É o que se deduz em lendo a referida obra, porque o autor, assim como Carlos de Melo, por ele usado ou nele escondido para contar sua memória sobre o passado no engenho do seu avô, fica difícil de separar ambos, assim como é difícil, porém, mas se tira leite de pedra, principalmente na década de 30 (trinta) do século passado, época do assassinato de João Pessoa, então governador da Paraiba e de João Dantas, na Casa de Detenção em Recife, acontecimentos que antecederam a Revolução de 30 e a data em que foi escrito o referido romance.

E o nosso contador de história da vida dele e de seus familiares, retrata sem sentimento aparente e existencial, as desigualdades e injustiças sociais e funcionais praticadas no chão do engenho de seu avô paterno, muita terra a perder de vista. sem remorso diante do nível de superioridade aristocrática de sua clã e da falta de legislação como a que existe atualmente, leis do trabalho e proibição do trabalho do menor, porque o que não é proibido é por dedução, permitido.

A desgraça em forma de degradação moral do corpo e da alma, era tanta e que sem remorso ficcional ou real, que Zé Lins, confessa em seu romance:

“O costume de ver todo dia esta gente na sua degradação me habituava com a sua desgraça. Nunca, menino, tive pena deles. Achava muito natural que vivessem dormindo em chiqueiros, comendo um nada, trabalhando como burros de carga. A minha compreensão da vida fazia-me ver nisto uma obra de Deus. Eles nasceram assim porque Deus quisera, e porque Deus quisera nós éramos brancos e mandávamos neles. Mandávamos também nos bois, nos burros, nos matos".

Isto é fato, e a fala é dele, do romancista Zé Lins.

Infelizmente, isso tudo naquele tempo é verdade dita no romance em termos de ficção, e na prática, porém, com todos amparos e apetrechos da legislação brasileira do século XXI, as mazelas sociais daquele tempo se multiplicam nos engenhos de fogo apagado ou morto, e nas cidades, onde milhões de crianças e adolescentes, perdem suas inocências morais, sexuais, educacionais e familiares para as drogas, assim como perdem os pais, que praticam crimes, os mais diversos possíveis, porque a cultura de matar que envolve o mundo atual nas redes sociais e meios de comunicação de massa, é o brinquedo incentivador, e isto não é a vontade de Deus, como enfatiza o puder do quero, do posso e do mando na ficção do romance Menino de Engenho, isto é falta de cumprimento das leis vigentes.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 18/04/2024
Reeditado em 18/04/2024
Código do texto: T8044222
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