MENINA MÃE

Não passava de uma criança, mas segura em seus frágeis braços uma outra criança de pouco mais de 8 meses. Por alguns minutos, acreditei que se tratava de uma pequena boneca que aquela pré-adolescente brincava de ser mamãe, uma prática muito comum entre as crianças. Muito embora não tão comum para uma menina de, aparentemente, 12 ou, no máximo, 13 anos de idade. Poderia ser uma boneca, poderia ser sua irmã, sua prima, sua sobrinha ou filha de uma amiga. De fato, tratava-se, mesmo, de uma criança, uma pequena criança de 8 meses. Idade confirmada pela pequena mulher mãe e estudante ainda do 6º ano do Ensino Fundamental. Não conversamos muito pois ônibus escolar dela logo chegou e a levou para a escola, aliás, levou as duas pequenas. Apesar de termos conversado pouco, ainda deu tempo dela me falar que estava levando a bebê para a escola porque não tinha com quem deixar, já que o pais da criança, se quer, ela sabia quem era e sua mãe, a avó da pequena, estava no trabalho e seus outros 5 irmãos são pequenos, não têm condições de cuidar de uma criança de 8 meses. Sobre seu pai, o avô da mais nova estudante, havia a abandonado quando ela tinha apenas 7 anos. Infelizmente, nenhuma surpresa, são situações que ocorrem com tantas outras meninas pelo Brasil. Em 2020, por exemplo, 380 mil partos foram de meninas com até 19 anos de idade, 14% de todos os partos no Brasil. Já Em 2019 foi de 14,7% e 2018 foi 15,5%. Esses são dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde. De fato, não se tratava de um caso isolado, de um absurdo, de algo que merecesse a mobilização coletiva em prol da resolução daquela situação. Tudo parecia muito normal, como as ondas do mar, como o voar dos pássaros. Mas a estranheza, o susto com aquilo que acreditamos não ser normal, se é que exista algo normal. Em filosofia se questiona, inclusive, o que é a normalidade. Mesmo assim, uma pré-adolescente com uma filha de 8 meses, sem saber, se quer, quem é o pai, sem saber, talvez, como se gera um bebê ou mesmo, sem saber como se evita uma gravidez indesejada, causa estranheza, pelos menos em algumas pessoas, como causou em mim. Fui embora me perguntando se aquela criança, a de 8 meses, teria um futuro diferente. Uma diferença já havia sido notada. A criança iniciara sua vida escolar bem cedinho, resta saber se a mãe continuaria a sua.

Manoel R
Enviado por Manoel R em 07/04/2024
Código do texto: T8036941
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