Sem rádio e sem notícias

Meu pai se casou com apenas 23 anos de idade,e minha mãe com 16. Ele perdera seu pai aos l2 anos e por isso não pôde estudar, precisava trabalhar para sustentar a mãe viúva. Seu tempo de escola foi de apenas quinze dias. Isso depois de adulto, quando o professor Mariano Grande tornou-se seu padrasto.

Morávamos numa casa campestre de alvenaria em estilo rústico, rebocada apenas por dentro. As paredes da copa eram enfeitadas com treze lindas estampas de santos dos quais conhecíamos história e milagres. O terreiro de areia branca era palco dos folguedos, das brincadeiras de roda, e do casamento chinês. No meio do pátio ficava um pé de buganvília cor de rosa pink, plantado com muito carinho por mamãe, ao lado direito, o curral de vacaria e o chiqueiro dos bodes.

Nas noites de luar a calçada se enchia de gente: avós, tios, primos e parentes mais distantes vinham conversar, trocar informações e saber das novidades - aquele tempo, ainda não se tinha rádio nem televisão, as notícias chegavam por carta ou de boca a boca.

O velho relógio de parede de tio Cândido, a menos de 200 metros de nossa casa, pingava as horas pontilhando o tempo, no silêncio e quietude da vida campestre. Vivíamos como dizia Luís Gonzaga: “... sem rádio e sem notícia das terras civilizadas.” Mas éramos felizes porque respirávamos o ar puro da natureza e não se ouvia falar em violência ou droga.

LIMA, Adalberto, SOUSA, Neomísia et al. O Brasil nosso de cada dia.