FILOSOFIAS DE BOTECO (BVIW)

Quem disse que o boteco não é um lugar de altas filosofias? Ele é. Depois de alguns uísques, uma cervejinha, então, nem se fala. As emoções vão aflorando e haja confissões! Eu, que navego é pelo suco de limão, só presto atenção na roda. Na conversa de sexta passada, cujo tema era “do que você se arrepende na vida?” um dos amigos contou que, aos 19, trabalhava numa grande multinacional da capital mineira. Certo dia, o chefe o abordou e, sem o menor pudor, “terceirizou” a ele a função de dispensar um colega de trabalho. E a falta de coragem para um sonoro “não”? Pois bem, ele dispensou o colega . E isso, gratuitamente, uma vez que tão desagradável tarefa seria do chefe. Hoje, bem mais maduro, ele reconhece a própria ingenuidade, já que a “culpa” daquela demissão recaiu inteira sobre ele, gerando desconforto geral na seção. E haja arrependimento! Há muitas coisas na vida passíveis de serem terceirizadas, mas algumas são inadmissíveis. Há também pessoas muito jeitosas, peritas em jogar inocentes no fogo e escaparem leves e soltas da situação. Esse tipo de terceirização é uma roupa que não se deve vestir. Arrependimentos, quem não os tem? Todos temos. A diferença é que devem vir sempre assinados de próprio punho. Depois não há uísque ou cervejinha que deem jeito: a culpa vestida e coroada de rainha é capaz de ocupar um edifício de mil andares na cabeça de quem num equívoco infeliz se deixou terceirizar.

Tema da semana: Terceirizando (crônica)