Da Rebelião à Conformidade: A Arte nas Amarras do Capitalismo

A arte deve ser um martelo a moldar a realidade, um espelho crítico sobre o mundo ao seu redor, uma espécie de revolução contra as amarras da conformidade e da repressão. Mas no atual ambiente estamos à deriva em um mar de reproduções estéreis, um reflexo da dominação perpetrada pela indústria. Essa reflexão traz à tona o debate crucial sobre o papel da indústria cultural nas artes e como sua presença, muitas vezes sufocante, deteriora as verdadeiras manifestações artísticas.

A ascensão de figuras na música como Anitta é vista como um marco da liberdade de expressão e da quebra de tabus: uma mulher que empodera outras mulheres e uma ativa voz da periferia, dizem as vozes identitárias. No entanto, um olhar mais atento às suas letras de mero "balança ancas" mostra como cantora cooptada pelo capital, mais uma mercadoria para consumo massivo. Isso mostra como capitalismo é capaz de se apropriar de qualquer expressão artística, convertendo potenciais atos de rebelião em produtos palatáveis para a sociedade de consumo.

A esfera cultural como um todo, incluindo seus consumidores, é frequentemente enredada em uma lógica de superficialidade, onde discursos de "empoderamento" são esvaziados de seu potencial transformador e se tornam mera ferramenta nas mãos do capital. A luta por uma arte verdadeiramente engajada, capaz de questionar estruturas de poder e fomentar a emancipação social, parece cada vez mais urgente no mundo do conformismo.

O contraste entre a rebelião que existia no rock, exemplificado por figuras como Rita Lee e Arnaldo Antunes, e a complacência de outros estilos musicais, como o "sertanejo universitário", ilustra vividamente a alienação promovida pela indústria cultural. Enquanto o primeiro busca questionar e subverter as normas estabelecidas, o último parece contentar-se em perpetuar um status quo, oferecendo uma trilha sonora para uma sociedade cada vez mais conformista e despolitizada. Como foi o caso das duplas sertanejas nos anos noventa falando de banalidades sentimentais ao servir de esteio para o governo Collor e nos últimos anos servir de trilha sonora para o bolsonarismo.

A arte tem o potencial de ser uma forma de resistência, um meio de questionar e desafiar as relações de poder existentes. No entanto, quando domada pela lógica capitalista, ela se transforma em mais um veículo para a reprodução dessas mesmas relações, alienando os indivíduos de sua capacidade de crítica e ação transformadora.

Portanto, a batalha por uma arte concretamente revolucionária, que possa tanto refletir quanto fomentar a luta por uma sociedade mais justa, é também uma batalha contra a alienação promovida pela indústria cultural. É uma batalha que exige não apenas a rejeição de formas artísticas que reforçam estereótipos e servem aos interesses do capital, mas também o compromisso com formas de expressão que questionam, desafiam e inspiram a mudança social.

15.03.2024

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 15/03/2024
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