Títulos, cheiros e domingo
Não se dá um nome antes de ver a cara da criança. Pode-se ter ideias, intuições, porém, é quando se encara a vida à sua frente, que se a nomeia.
A mesma coisa é para um texto qualquer, uma aldravia, um poema, uma crônica... Escreva-a e veja a forma, depois, dê-lhe um nome.
Certo dia estava eu, às dez e tantas da noite, pensando sobre o que escrever. Era alguma coisa sobre o Universo. Estava eu, deitado em alusão ao Pentateuco, trocando o introito pelo cabo, na cama, e, nessa forma invertida de se deitar, com a minha janela escancarada, sentia o cheiro da noite.
Que cheiro melancólico é o cheiro de uma noite de domingo! Rico de aromas do passado, carrega um frescor de algo já vivido, passa por nós convidado pela brisa da noite, e assim unta o nosso espírito de uma melancolia misturada com felicidade.
Ao olhar para o céu, encaram-me a escuridão da noite e a imensidão do Universo, a brisa da noite se esparrama pelo quarto. Sinto a solitude que só o ser humano é capaz de sentir.
Guardo-a para mim. Afinal, amanhã é segunda-feira, dia do empreedimento. Diferentemente de uma bela noite de domingo, onde a criatividade se esmigalha no ar, amanhã não haverá absolutamente nada para se contemplar.