Visita grega

Ignóbil criatura gélida e pegajosa, do profundíssimo acaso ou desprezo divino foste criada, operária do caos chuvoso que invade casas e repousa maquiavelicamente — posto que sonsa —na parede branca que a destaca em sua notável pequenez que não impede a constatação da certeza de que há uma total deficiência em graça e beleza, ó filha bastarda da natureza — mora em ti a repulsa que se transforma na ânsia que vem à boca de quem escreve. Prefiro ignorar-te a odiar-te, pois o único sentimento maior do que o ódio é o amor. Estranhíssimo bicho que cospe na face da cadeia alimentar, tolo aos olhos de quem não absorve sua gritante dissimulação e cinismo enquanto calculadamente estica suas lânguidas e vergonhosas pernas — ó espécie adorada do submundo — para rir de minha cara que desfez-se em temor. Culpada pelos mais infames pensamentos humanos, de ti veio a força para detestá-la desde os negros globos oculares que denotam melancolia e vida — em sua forma mais pura: a imprevisibilidade.

Adeus, minha já nobre rã. Nunca mais retorne — mesmo que tenha me servido de objeto de escrita. É que prefiro mamíferos.