Quarta Feira de Cinzas

Hoje, despertei em um compasso lento, um estado físico de apatia que se estende até as tarefas mais simples da rotina diária. A sinergia entre mente e corpo parece descompensada, ondas cerebrais em uma estática de alpha, com falta de Gama, Theta, talvez até Delta. Algo, sem dúvida, está fora de sintonia.

Encontro-me estático em minha poltrona, observando o navegador, navegando por páginas na internet em busca de novidades que, invariavelmente, se transformam em mesmices do cotidiano. A ideia de sair é confrontada pela chuva de verão, impossibilitando uma caminhada serena pelas paisagens que, embora não extraordinárias, costumam satisfazer.

Olho pela janela e noto a ausência do canto dos pássaros, enquanto minúsculas florestas, obscurecidas pelo edifício em frente, oferecem uma visão parcial de um verde florido contrastando com o céu camuflado de cinza. A monotonia do momento me leva a ajustar as almofadas, buscando algum conforto na contemplação.

Decido então acionar as trilhas sonoras que criei, repletas de atmosferas progressivas e ondas sensoriais, tentando suavizar meu córtex frontal e ativar um pensamento simétrico e energizado. A lentidão inicial começa a ceder, a mente se entrelaça com informações, revitalizando o corpo com uma energia positiva.

No entanto, essa ressurreição mental não deixa de trazer à tona reflexões sobre as loucuras e conspirações presentes na sociedade. A manada, que ora a Cristo salvador, parece paradoxalmente enaltecer torturadores, perdendo-se em uma desconexão com a verdadeira essência do amor e compaixão.

O dia prossegue aos trancos, uma dificuldade em engatar a marcha certa para fazer o motor da vida entrar em uma rotação constante. Contudo, essa é a natureza dos dias, uns sucedendo os outros, e, com o tempo, a verdade pode emergir para aqueles que estão dispostos a enxergar além das traves arrancadas dos olhos cegos.

Nesta jornada, a esperança reside na possibilidade de que, um dia, a justiça se sobreporá às atrocidades, desmascarando os crápulas disfarçados de santos. Ninguém está acima das leis humanas, e a paciência de Deus observa atentamente as injustiças cometidas por aqueles que se autodenominam paladinos, enquanto o povo menos favorecido continua sendo vítima de uma sociedade que perdeu o verdadeiro significado da fraternidade.