Domquixotear o que há de mau

Não sei se é mais fácil ou mais difícil ser uma mariposa. Uma daquelas feias, malfeitas e tontas. Elas morrem muito aqui em casa. Cansei de varrê-las. Será que em um universo paralelo há mariposas varrendo pequenos humanos que faleceram em suas varandas? Eu sempre penso nessas besteiras desde que vi uma mão de cigarros tragando um dedo.

As borboletas-que-deram-errado não veem o vidro da janela, se debatem no chão e morrem. Não veem a parede, se debatem, me perseguem no tapete e morrem. Que ciclo de vida deprimente.

Penso que o beija-flor é tão mais do que uma mariposa. Que pensamento pequeno o meu. Todas as criaturas são importantes. Até nós. O problema é que nós nos autodeclaramos donos de tudo, sendo que tudo nessa vida é emprestado. Tudo. Até as pessoas. Ninguém me pertence, eu não pertenço a ninguém também. Mas que difícil, meu Deus, que é esquecer de um olhar daquele por quem espero e não vejo. Demora um total de uma vida toda. Amorteamo. Lembrei desse título. Não é um neologismo meu, embora eu faça mais palavras do que faço outras coisas. Deveria aceitar os beijos que me prometeram dos 13 aos 20.

Isso daria o resto de minha vida.

Brincadeira, não posso dizer isso porque sou modesta. E não posso dizer que sou modesta por razões óbvias. Mas não é uma mentira assim de todo, não.

Tenho que parar de fantasiar antes de me domquixotear por inteira. Ele não fala comigo, eu não saio de casa. Ele tem medo, eu sou traumatizada. Ele é um doce mistério, eu sou ansiosa. Ele é ele, eu sou eu. Não sei até hoje o que isso significa. Se é bom, bem. Se não, bem também. A ele dedico minhas palavras, se é que elas significam alguma coisa além de meu próprio reflexo. Pode me olhar, pessoa, que as boas línguas dizem que de amor a gente morre e continua vivendo. Eu só não sei como é esse negócio, se a gente contrai a doença e passa logo, ou se é crônica. Deve ser. Até que de crônica eu sei mais ou menos.