SOBRE VIAGENS E PÃO DE QUEIJO

Meu pai comprava queijos na banca do Ronaldo, no Mercado Central. Queijo canastra meia cura, o melhor queijo do mundo. Comprava queijo e cachaça. Havia muitos anos. Com sua doença incumbiu-me de fazer por ele a visita semanal ao Mercado Central para a compra do queijo. Cheguei, apresentei-me, todos perguntaram por ele. Agora é rotina. - Como vai Sr. Francisco? O queijo que ele gosta é desse aqui, ó! Aí compro dois: um para ele, outro para mim. Em casa de mineiro não falta queijo Minas, Canastra, do Serro, Frescal, etc.

 

Uma amiga francesa disse-me que na França tem pelo menos um tipo de queijo diferente para cada dia do ano. Retruquei docemente: vocês não tem o queijo Minas. Quando ela veio me visitar em Minas Gerais fiz questão de apresentá-la ao nosso canastra meia cura. Ela se curvou à realidade. Realmente, esse é ímpar. Adorou também nosso pão de queijo. E sem queijo Minas não tem pão de queijo.

 

Antes de viajar para a França, para passar uma boa temporada, parei em um café do centro da cidade e pedi aquela dupla infernal, sem a qual, nós mineiros não sobreviveríamos ao dilúvio: café e pão de queijo. Saboreei lentamente o pão de queijo, com cara de bom amante, sem saber quando se repetiria a cena. A meu lado sentou-se uma figura, pediu a mesma coisa, e, também silenciosamente, passou a saborear seu café-pão-de-queijo (a essa altura uma coisa só). Sem que eu sequer olhasse para ele, e acho que ele também não olhou para mim, quebrou o silêncio do ritual dizendo: - quando morei em Los Ângeles o que mais me fez falta foi o pão de queijo -. Filho da mãe! Tinha que falar isso justo naquele momento? Tinha que antecipar tão dramaticamente o que eu já suspeitava?

 

Mas, como bons mineiros, essa foi a deixa para um longo papo sobre viagens e pão de queijo (pão de queijo não tem plural). Claro que nunca mais vi a figura. Viajei muito e tentei fazer pão de queijo em Paris. Comprava polvilho em um mercado africano no 14ème e usava queijo Ementhal, suíço, queijo de leite de vacas de montanha, que sequer se aproxima do nosso queijo Minas e nunca matou a saudade do pão de queijo mineiro. Nem do pão de queijo nem da música de Minas.

Paulo Cezar S Ventura
Enviado por Paulo Cezar S Ventura em 10/01/2024
Código do texto: T7973643
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