Ou é úlcera ou é amor

O último poema para meu primeiro príncipe. Ou a última crônica. Ou a última carta. Mas nunca o último pensamento. Ou a última palavra. Dói pensar em tudo dele, em tudo em volta dele, em toda mulher que passa por sua cabeça. Mas a dor é de quem tem. E eu resolvi não ter. Não é tão ruim. Nem que a paixão dele seja outra pessoa. Por que tudo na vida precisa ser de uma poesia tão explícita? “Anita que amava fulano de tal que amava beltrana”. Não que eu ame. Mas se eu amasse, dançaria conforme a quadrilha de Drummond. Também há quem me ame, ou quem goste de mim, e eu não gosto de volta. Ou até posso gostar, mas não amo. É difícil. A vida é ruim, sim. Ruim. Majoritariamente ruim. Mas é essencialmente bela.

A beleza dói. Dói porque é triste. E só é bela porque é triste. O céu não é azul por acaso. Azul significa melancolia, tristeza. Além de tão “down”, eu também ando tão “blue”. Ando tão à flor da pele. Ando tão sozinha. Ando tão completamente doida. Tão completamente cheia de vazios e de insignificâncias. Ando tão cheia de mim. Tão cheia do que eu criei de você. Ando por um caminho azul que não há. Cor de você, cor de poesia, cor do sonho alucinado que eu tive com a gente na casa de minha avó, cor da última música dos Beatles, cor da voz de Caetano, cor dos rojões imaginários que celebram a tua chegada, cor do instante em que a saudade cessa, cor de um abraço. Um abraço que ora é de chegada, ora de despedia. Ora de felicidade, ora de consolo. Todos os sentimentos do mundo cabem nesse movimento de abarcar um corpo com os braços. Falando nisso, se eu tivesse um barco e um Dramin, te levaria para Pasárgada. Que é o seu lugar.

“E quando eu estiver mais triste


Mas triste de não ter jeito


Quando de noite me der


Vontade de me matar (…)”

Lá eu sou amiga do rei, o teu pai. Terei o homem que eu quero, que é você. Na cama que escolherei, que definitivamente não será no quarto de minha avó.

Vai-te embora pra Pasárgada, que por lá eu sempre estou.