25 HORAS POR DIA (BVIW)

“Cabeça vazia, oficina do Diabo”: segundo essa máxima, ninguém deve ficar à toa na vida a ver a banda passar. Deve sim, estar sempre se ocupando de alguma coisa pra não correr o risco de sair por aí armando confusão. A verdade é que a máxima surte efeito. Toda vez que uma rede à sombra nos chama pra um descanso, a sensação de culpa nos espia com seu olho de censura: Vai perder tempo em rede? Não tem alguma coisa pra fazer? E se a gente olhar à volta, num minuto descobre um mundo de coisa pra fazer. O segredo é não olhar, não pensar. Para correr pra rede é preciso desencanar e partir para o “Eu mereço não fazer nada. Nem que seja de vez em quando.”

Escolhi uma profissão que é mestra em deixar culpas no quesito “ficar à toa”. Uma professora nunca termina sua tarefa. Sempre acha que poderia estar fazendo alguma coisa, mesmo quando está fora da sala de aula. Pensa que poderia estar pesquisando, preparando conteúdo, organizando material, coletando ideias para o próximo assunto. Tudo que ela toca, escuta, vê ou fala vale como ferramenta de trabalho. Sua cabeça — que pensa 25 horas por dia, não possui um único cantinho vazio. Quando uma professora, que tem por arte o trabalho, está prestes a se aposentar, ela tem receio da arte de não fazer nada. Até descobrir que existem outras artes que também não a deixarão sem fazer nada. Assim como o Diabo, Deus também tem suas oficinas.

Tema da Semana: A Arte de Não Fazer Nada (crônica)