Tempos Idos

Hoje, as ruas são povoadas de sonâmbulos, seres que vagam pelas calçadas em um transe digital, absortos em seus dispositivos eletrônicos. A realidade parece distante, obscurecida pela luz fria das telas. No entanto, houve um tempo em que as ruas vibravam com uma magia diferente, quando o bonde era o encanto ambulante que unia comunidades e transformava o ordinário em extraordinário.

O bonde era mais do que um simples meio de transporte sobre trilhos. Ele era um coreto ambulante, uma sinfonia móvel que deslizava pelos bairros, transformando o cotidiano em um espetáculo musical. Ao contrário dos sonâmbulos de hoje, as pessoas na época eram despertadas pela melodia que fluía das janelas do bonde, uma trilha sonora que conectava gerações.

Cada bonde trazia consigo uma banda dedicada a animar as ruas. Músicos habilidosos ocupavam os assentos, e o condutor, mais do que um operador de veículo, era o maestro que regia a harmonia urbana. À medida que o bonde avançava, as notas musicais dançavam pelo ar, envolvendo os transeuntes em um espetáculo que ecoava pelos quarteirões.

Era comum ver crianças correndo ao lado do bonde, seus risos misturados às melodias, enquanto os mais velhos se aproximavam das janelas para apreciar a música que evocava memórias de dias passados. O bonde não apenas transportava pessoas de um lugar para outro, mas também criava um espaço comum, um ponto de encontro efêmero onde a comunidade se reunia em torno da música.

Hoje, as ruas são ocupadas por sonâmbulos presos às telas de seus dispositivos, mas a lembrança do bonde permanece viva na memória daqueles que testemunharam essa era mágica. Talvez seja hora de resgatar essa tradição perdida, de trazer de volta o encanto do bonde que era mais do que um meio de transporte, era uma celebração ambulante da vida.

Ao recordar o bonde, podemos encontrar inspiração para romper com o transe digital que nos consome. Imagine se, em vez de olhar para baixo, as pessoas levantassem a cabeça para apreciar a música que flui ao seu redor. Talvez, ao ressuscitar o espírito do bonde, possamos despertar os sonâmbulos modernos para a riqueza da experiência compartilhada e reviver o encanto de uma era em que as ruas eram palcos de uma sinfonia urbana.

Estêvão Zizzi
Enviado por Estêvão Zizzi em 14/12/2023
Código do texto: T7953992
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