Na livraria.

Fui à livraria com uma amiga. Esse é o único lugar daquele shopping que realmente nos agrada, com aquele cheiro de folhas novas e café. Separamo-nos para que pudéssemos bisbilhotar em diferentes seções os livros que eram interessantes a nós, no meu caso: a filosofia e a literatura estrangeira, assim como a cristã, já para ela, esta última e o empreendedorismo. Primeiro me dirigi à parte de filosofia, lendo resumos na contracapa de obras como as de Platão, Nietzsche, Kierkegaard, Rousseau, Heidegger, Foucault, entre outros. No entanto, num momento antes de eu me esticar na prateleira para pegar algum desses exemplares, segurei um do escritor Olavo de Carvalho: “O Imbecil Coletivo”, um livro grosso, denso, calhamaço. E, exatamente nesse instante, chegaram perto de mim dois adolescentes, um menino e uma menina. Estavam atrás de mim; senti o mocinho apontar e o ouvi dizer, cinicamente, à menina:

- Ali, está vendo?

- O quê?

Senti ele balançar a cabeça para apontar com o queixo na minha direção.

- Ah!

Percebi o meu barômetro orgânico indicar a antipatia da parte deles. Depois eles se aproximaram de mim, visualizando alguns livros, conversando entre si e me observando esporadicamente. O garoto iniciou, de modo sardônico:

- “O anticristo”, de Nietzsche. Haha! Está próximo das bíblias, não é engraçado?

- Não…

Eu também concordei com ela, mentalmente.

- Ah, mas eu achei.

A garota gesticulou falando e rindo um pouco ao final:

- Como se alguma coisa que ele escreveu seja boa.

Achei aquela afirmação muito precipitada. O menino disse algo ininteligível em resposta. Mas, depois ele pegou um livro de um outro autor que abordava sobre algumas ideias de Nietzsche, e falou:

- Esse livro é bom.

- Qual?

- Esse aqui.

E duvidei um pouco se de fato ele o tinha lido, pois achei o comentário vago, como se repetisse o que uma outra pessoa havia dito.

Depois ele pegou uma obra de Foucault e disse para a amiga, ironicamente:

- “Vigiar e Punir”. Li umas duas páginas e não entendi nada. Quando você crescer, tem que ler.

Concordei com ele nesse quesito, também considero a obra difícil de ser compreendida.

A menina pegou o livro, deu uma olhada zombeteira para o amigo, folheou despretensiosamente e respondeu:

- Ele caiu na prova do Enem, inclusive.

Não ficaram por muito tempo e saíram da seção dialogando sobre isso. E tive a ligeira impressão de que só liam algo com o intuito de obterem para si quaisquer argumentações e referências frouxas em prol do Enem, e não porque gostariam de, verdadeiramente, adquirir algum tipo de conhecimento sólido.

Mariizans
Enviado por Mariizans em 11/12/2023
Reeditado em 29/03/2024
Código do texto: T7951902
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.