Minha história com Millôr

Conheci Millôr Fernandes no início dos anos 90, ao ler Sapomorfose ou o Príncipe que Coaxava, livro de Cora Rónai, com ilustração desse grande mestre do desenho e da caricatura. Além de suas ilustrações incríveis, tem uma que me chamou atenção, um tipo de autorretrato em que ele aparecia como um senhor de feições bem cômicas, um ar de zombeteiro, típico desse carioca maroto. A obra muito fluida de Cora me conquistou, mas as ilustrações e aquela caricatura do Millôr me instigaram a conhecer mais sobre sua biografia e sua obra.

Milton Viola Fernandes, esse ícone da caricatura e do humorismo brasileiro nasceu no Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, no bairro do Méier, em 16 de agosto de 1923. Aos 17 anos, quando solicitou uma cópia de sua Certidão de Registro de Nascimento, a caligrafia rebuscada do tabelião fez com que o “Milton” ficasse parecido com “Millôr”, nome esse que acabou adotando nos documentos e que o tornaram mundialmente conhecido.

Nascido em família de imigrantes espanhóis, trabalhou desde cedo e seu primeiro emprego foi na revista O Cruzeiro, início de uma riquíssima trajetória na imprensa brasileira. Trabalhou também nas revistas IstoÉ e Veja, além do Jornal do Brasil, mas se destacou mesmo no semanário O Pasquim, onde conviveu com os gênios Ziraldo, Paulo Francis, Henfil, Chico Buarque, Glauber Rocha e Odete Lara.

Millôr teve uma profícua carreira literária, sendo autor de diversas obras em prosa e verso, com destaque para sua principal publicação, Trinta anos de mim mesmo, lançada em 1972 pela Editora Nórdica. E como um artista multifacetado foi autor também de peças de teatro, espetáculos musicais, tradutor de livros e textos teatrais, além de corroteirista e colaborador no cinema.

No início dos anos 2000, quando eu cursava Jornalismo, participei de um concurso cultural da Revista Imprensa, intitulado “O que você conhece do Millor”. O concurso consistia numa foto de Millôr Fernandes vestido com o Fardão da Academia Brasileira de Letras e deveríamos dar uma legenda para a ilustração. Fiquei entre as 20 melhores legendas de todo o Brasil e acabei sendo o vencedor. A minha legenda, publicada na Revista Imprensa de fevereiro de 2000, foi: “Procurado: el comandante del humor, o perigoso Millor. Acusação: matou mais de mil, de rir, no Brasil. Entregue o vilão e ganhe o carvão”. Lembro que minha legenda fazia uma alusão a Fidel Castro e Che Guevara, por isso o uso de um “portunhol” e teve esse ar de humor e irreverência traduzindo o espírito alegre de nosso homenageado.

O prêmio era um CD-Rom sobre obras e histórias do humorista, mas nunca cheguei a efetivamente receber. Mas isso é o de menos, o mais importante é o fato de hoje eu estar contando essa pitoresca história. Além disso, meu nome saiu na Revista Imprensa e numa matéria especial do jornal Primeira Página, jornal laboratório do curso de Jornalismo, intitulada “Aluno da Unipa é premiado em concurso nacional”, assinada pelos jornalistas Alessandro Emergente (editor do Alfenas Hoje) e Luciene Andrade Corrêa (já falecida da cidade de Januária-MG).

Millôr Fernandes morreu em 27 de março de 2012, no Rio de Janeiro, em seu apartamento no bairro de Ipanema. Aos 88 anos ele deixou uma memorável carreira e o seu nome registrado no panteão da arte brasileira, o que lhe credencia com toda a justiça e devidas loas a receber todas as nossas homenagens em seu Centenário de Nascimento.