AINDA EÇA...

A transladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional, fez correr muita tinta, que envolveu, descendentes do romancista, respeitáveis intelectuais e políticos.

O caso chegou ao Supremo Tribunal Administrativo, que acabou de dar razão a Afonso Reis Cabral, trineto de Eça e Presidente da Fundação Eça de Queirós.

Mesmo contra a vontade de alguns descendentes, que tudo fizeram para o impedir – houve até quem duvidasse que o antepassado gostasse de estar em companhia desses ilustres cidadãos... – e da boa gente de Baião, habituada à "presença" do escritor, no Cemitério de Stª. Cruz do Douro, o tribunal sentenciou a favor da Fundação Eça de Queiroz.

O maior estilista da língua portuguesa deixou, portanto, de ser " pertença" exclusiva da família e dos baionenses, para ser de todos os portugueses.

Homenagem justíssima, já que seus contemporâneos não souberam ou não quiseram prestar-lhe, após o falecimento, as honras de que era merecedor.

Como não se pode, talvez nem se queira, levar Camilo para o Panteão Nacional, parece-me de inteira justiça erguer, como se fez com Aristides de Sousa Mendes, no Panteão, cenotáfio de homenagem a Camilo Castelo Branco. Era gesto de louvar e prova que o romancista não está esquecido.

Durante as cerimónias fúnebres de Camilo, Guerra Junqueiro sugeriu – que devia ser sepultado nos Jerónimos e fosse decretado luto nacional.

E no Parlamento, Alberto Pimentel, propôs que ficasse registado em ata – " Um voto de profundo sentimento pela morte do iminente escritor, Visconde de Correia Botelho, Camilo Castelo Branco, glória da literatura nacional".

Infelizmente essas vozes amigas foram em vão. Camilo: " O Primeiro Romancista da Península", como se dizia, ou: " O Príncipe dos Escritores", como afirmou Reis Santos, na oração fúnebre, permanece, quase esquecido, no jazigo de amigo, no Cemitério da Lapa, no Porto.

A concluir, julgo oportuno levar ao conhecimento do leitores, o parecer do conceituado filólogo, fundador da " Sociedade da Língua Portuguesa", Vasco Botelho de Amaral, no:" Glossário Critico", sobre Camilo:

(...) A linguagem de Camilo é riquíssima de valores expressivos (...) Em todas as páginas revela o Mestre, o diligente estudo a que se consagrou, auscultando os dizeres das bocas populares e investigando nos clássicos documentos ignorados, mas inestimáveis riquezas idiomáticas. Junte-se a isto o extraordinário génio verbal e estilístico do escritor, e como resultado se nos apresentará a admirável vernaculidade da linguagem de Camilo".

Humberto Pinho da Silva
Enviado por Humberto Pinho da Silva em 16/11/2023
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