A Intolerância Religiosa como Tema do Enem

O tema de redação do Enem 2016, que abordou a intolerância religiosa no Brasil, despertou em mim um misto de satisfação e reflexão. Como educador, durante esse ano, dediquei-me a ministrar aulas sobre a complexidade desse tema aos alunos do ensino médio, e percebo que a escolha desse assunto para o exame nacional deixa claro sua importância sociológica.

Com os alunos do 3º ano, mergulhamos no multiculturalismo e no relativismo cultural, discutindo como tentativas de impor uma religião ou cultura a outro grupo humano frequentemente resultam em conflitos devastadores, que ceifam vidas e ferem direitos fundamentais. O conceito de etnocentrismo também foi abordado, mostrando como a ideia de superioridade de uma fé sobre a outra tem sido causa de choques culturais ao longo da história, inclusive no Brasil. O que pode ser observado em atos quase corriqueiros de alguns cristãos queimando criminosamente terreiros de candomblé.

No 2º ano, explorei a questão dos quatro tipos de direitos (civil, social, político e difuso). Destaquei a liberdade religiosa como um direito civil fundamental, enraizado na história ocidental e consagrado em nossa Constituição Federal. No entanto, alertei os alunos sobre a distinção entre cidadania formal e substantiva, evidenciando que, apesar dos avanços jurídicos, a intolerância religiosa ainda persiste devido a fatores sociais complexos, os quais estão ligados a um profundo preconceito enraizado desde os primórdios da escravidão no Brasil.

Inclusive, propus questões em provas que relatavam atos de intolerância religiosa, como conflitos entre evangélicos e umbandistas. Também enfatizei a aparente laicidade do Estado brasileiro, embora a influência de uma bancada evangélica tenha limitado esse aspecto. É importante mencionar que, naquele bimestre, continuamos discutindo as violações dos direitos no país, o que apenas acentuou a relevância desse tópico.

Tenho a satisfação de reconhecer que o trabalho realizado nesse ano não se limitou a assuntos voltados para os vestibulares, mas também incentivou uma reflexão crítica. Essa abordagem visa capacitar os jovens a se tornarem cidadãos conscientes e atuantes em sua vida cotidiana.

Nesse contexto, é essencial ressaltar a importância de estudar a intolerância religiosa no ensino médio. Essa abordagem oferece aos adolescentes uma compreensão crítica dos problemas sociais e culturais que persistem em nossa sociedade. Ao entender as raízes e as consequências da intolerância religiosa, os alunos estão mais bem preparados para se tornarem cidadãos ativos e engajados, promovendo a tolerância e o respeito à diversidade religiosa. Além disso, a análise sociológica desse tema nos lembra de que a convivência pacífica entre diferentes crenças é um desafio global, e a educação desempenha um papel fundamental na construção de sociedades mais inclusivas e justas.

06-11-2016

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 06/11/2023
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