O Primo Bolivar

Meu primo Bolivar, era um epicurista também afeito à oratória, já aos 15 anos de idade, arrastava cento de dez quilos de sabedoria em sua massa muscular. No final da segunda metade da década de 1960, meu amigo José Omar, correspondia através das páginas de uma revista, com uma alagoana, nascida na capital. Mas Zé Omar tinha pouca leitura e muita dificuldade para escrever.

Naquele tempo, uma revista brasileira, publicou em suas primeiras páginas que a bandeira do Piauí era um couro de bode, ruída de muquiranas e por outros insetos perniciosos, coisas mais ou menos desse tipo, se não foi exatamente assim, perdoe-me o editor, pois não tenho mais o exemplar de sua revista. A alagoana leu a matéria e entendeu de escrever a José Omar, sugerindo que ele saísse do Piauí.

Nervoso, chega o correspondente com a carta na mão.

- Adalberto, vamos dar uma resposta adequada a essa alagoana? Olha só o que ela diz do Piauí.

A carta descrevia uma região inóspita e por isso, sugeria ao correspondente que se mudasse dali.

Estávamos nessa conversa quando chega o primo Bolívar e depois de lhe dar conhecimento do conteúdo da carta, veio a pergunta:

- Você topa me ajudar a responder essa carta?

- Vamos responder - disse ele.

Zé Omar e Bolivar ditavam a carta enquanto eu acionava as teclas da velha máquina Ollivett.

A carta, finalmente, ficou pronta e incluia alguns pitacos do datilógrafo.

Bolivar então fez subir seus 110 quilos sobre uma frágil escrivanin do "Armazém-flor-de lis" e leu o sermão da espístola.

... Estamos ao dealbar de um Piauí crescente e desenvolvimentista, não é o Piauí que a revista

“O Cruzeiro” retratou em suas páginas ferinas, de notícias distorcidas...

Aqui não há insetos perniciosos nem a bandeira do Piauí é um couro de bode.

O que o repórter daquela revista queria era arrancar o dinheiro dos cofres públicos para patrocinar uma matéria mostrando as maravilhas do Piauí, como o Delta do Parnaíba e a fantástica Sete Cidades de Piracuruca.

Não conseguindo o dinheiro que queria, ele mesmo comeu o couro de bode porque é muito mais miserável do que nós.

Tenho dito.

Bolivar desceu de seu púlpito improvisado e alguns anos depois, ei-lo advogado com formação acadêmica em Direito. Anos mais tarde, eis o Dr. Bolivar Lima Batista no céu, preparando o discurso da homilia celeste.